Nalguns casos, as dificuldades são suficientemente sérias para que seja necessária a intervenção de um terapeuta familiar. E numa fatia considerável destes pedidos de ajuda os comportamentos disfuncionais dos filhos adolescentes são apenas a face visível dos reais problemas da família.
Muitos dos equívocos de comunicação que surgem nesta altura estão relacionados com o processo de autonomização dos filhos que, já não sendo crianças, procuram construir a sua identidade testando limites, partilhando mais os seus afectos e as suas preocupações com o grupo de pares do que com os pais.
Por exemplo, esta é, de um modo geral, a altura da vida em que surgem os primeiros amores e a generalidade dos pais até é capaz de reconhecer que os filhos possam não querer falar abertamente sobre isso, mas podem sentir-se rejeitados se a comunicação começar a escassear. Se o adolescente anda sistematicamente irritado e/ou fechado sobre si mesmo, e rejeitar os mimos do pai ou da mãe, estes podem sentir-se preocupados e desorientados. Mas isso não significa que haja qualquer revolta da parte dos filhos. Na generalidade dos casos, os adolescentes preferem falar sobre os seus relacionamentos afectivos e sobre as suas frustrações com os amigos da mesma idade, mas isso não significa que desprezem a opinião dos pais. Sentem, isso sim, que o grupo de pares está mais capaz de compreender aquilo por que estão a passar. As pesquisas nesta área mostram que a maior parte dos jovens aponta os pais (ou outros adultos próximos) como as pessoas que mais influenciam as suas vidas, em particular no que diz respeito aos comportamentos relacionados com a sexualidade.
Muitos pais sentir-se-ão com certeza incompreendidos pelos seus filhos. Alguns acharão até que representam sistematicamente o papel de "chatos", mas boa parte do comportamento dos adolescentes é modelado pela influência parental.
Claro que é preciso uma boa dose de paciência e perseverança, mas o mais importante é tentar criar um ambiente suficientemente confortável e acolhedor para que os adolescentes sintam que existe um porto de abrigo a que podem recorrer quando se sentirem desamparados.
É possível que a maior parte destas tentativas sejam goradas por respostas agressivas e que os adolescentes sejam rotulados de conflituosos. O que acontece é que a generalidade dos jovens encara o conflito como uma forma de afirmar a sua identidade, de testar novos limites, enquanto os pais acabam por olhar para estas zangas como ataques pessoais.
O facto de um adolescente recusar os gestos de afecto que eram comuns até há algum tempo atrás e de preferir fechar-se no seu quarto agarrado à almofada - ora para chorar, ora para descarregar a sua fúria - não é necessariamente alarmante. Compreender que alguns actos de rebeldia não são mais do que exercícios de autonomização evitará com certeza muitas dores de cabeça.
Mas se é verdade que a relação entre pais e filhos durante a adolescência requer alguma tolerância e sensibilidade, é importante lembrar que a estabilidade emocional e a estruturação da personalidade dos jovens dependem da existência e cumprimento de regras. Estas devem ser claramente definidas, assim como o sistema de aplicação de castigos e recompensas. Afinal, uma das competências que se espera que os filhos adquiram antes da idade adulta é o pensamento consequencial, imprescindível à tomada de decisões e preventivo dos comportamentos de risco.

