Esta é uma das questões com que a maior parte dos psicólogos são regularmente confrontados e que a generalidade dos pais e mães colocará a si mesma em algum momento. Sendo certo que a generalidade dos estudos sugere que as crianças se desenvolvem de forma emocionalmente mais segura quando os pais mostram de forma muito clara o seu afeto e quando são capazes de reforçar positivamente os sucessos dos filhos, as investigações também dão conta daimportância da colocação de limites aos comportamentos das crianças. Mais:
Um estilo parental permissivo tende a gerar crianças
vulgarmente apelidadas de mimadas
e com fraca resistência à frustração.
Assim, de forma resumida, diria que os pais NÃO devem ter como objetivo ser amigos dos filhos. Esse não é o seu papel, ainda que a escolha possa estar recheada de boas intenções. Quero com isto dizer que os pais e mães devem assumir um estilo parental autoritário e abusivo? Claro que não!
Como referi antes, as crianças precisam de afeto e também precisam de se divertir com os pais. Mas isso não deve implicar uma postura de laissez-faire. Pura e simplesmente não é ajustado permitir que cada criança viva de acordo com as suas próprias regras, ignorando a necessidade de impor barreiras, dizer não e até de implementar castigos.
Vejamos um exemplo prático: se uma criança de 5 anos decidir cortar o pelo ao cão da família, como está habituada a fazer em relação ao cabelo dos seus bonecos, é expectável que os adultos à sua volta intervenham – e não apenas em defesa do animal de estimação. A verdade é que a inexistência de retorno negativo, de imposição de regras, geraria problemas sérios para o desenvolvimento emocional da criança que, estou segura, teria muito maior probabilidade de enveredar por comportamentos problemáticos mais cedo ou mais tarde.
É só na medida em que os pais tenham coragem para intervir e contrariar a vontade dos filhos, impondo-se enquanto figuras de autoridade (que os amigos não são) que os poderão ajudar a transformar-se em adolescentes e adultos emocionalmente seguros e inteligentes. Para isso, é preciso firmeza e capacidade para reagir sempre que os filhos façam algo que não seja aceitável. Mais: estes limites devem fazer parte de regras bem definidas, em que as consequências para cada escolha futura estejam claras. Claro que as regras também devem traduzir o exemplo prático do comportamento dos pais – a ideia do “Faz o que eu digo, não faças o que eu faço” é absolutamente antipedagógica.
Os pais devem ser capazes de mostrar o amor que sentem pelos filhos de forma clara, inequívoca. E isso também passa por serem capazes de se divertir com as crianças/ os adolescentes, desde que nunca deixe de ficar claro quem é o progenitor e quem é o filho, isto é, quem é que tem o dever de fomentar a segurança de quem, quem é que educa quem.