Sendo o divórcio uma etapa da vida marcada quase sempre por profundo sofrimento, sensação de perda e fracasso, medo do futuro e alguma incerteza em relação ao que é (ou deve ser) o amor e o compromisso, é com estranheza que a maior parte das pessoas olha para aqueles que, mal saíram de um casamento, e já estão romanticamente envolvidos com outra pessoa.
Independentemente das circunstâncias que deram origem ao divórcio, habituámo-nos à ideia de que este é um processo que envolve um período de luto. De facto, a maior parte das pessoas sente a necessidade de fazer esse luto - algumas recolhem-se, afastam-se dos familiares e amigos e buscam a paz interior através da introspecção; outras, pelo contrário, buscam neste núcleo o amparo e a solidariedade para que tão rapidamente quanto possível possam reerguer-se. Há também quem opte por viver o luto saindo tanto quanto possível, numa tentativa de escapar à solidão e ao sofrimento provocados pela separação.
Ainda que o desejo de andar com a "bola para a frente" seja comum a quase todas as pessoas nestas circunstâncias, é comum ouvi-las dizer coisas como "tão cedo não me envolvo com outra pessoa"ou "agora preciso de tempo para mim". Estas frases são ainda mais frequentes quando há filhos pequenos, já que, para além do luto conjugal, há a necessidade quase instintiva de proteger as crianças de quaisquer outras mudanças afectivas.
Mas, como refiro tantas vezes, a vida não pára de nos surpreender, de "estragar" os nossos planos e, muitas vezes, o interesse por outra pessoa surge antes do que estava previsto.
A maior parte das pessoas teme um novo envolvimento amoroso no período pós divórcio. A insegurança, os medos, a falta de confiança nas intenções de quem está do outro lado, as dificuldades de auto-estima e a própria carência afectiva dão origem a alguma ambivalência - por um lado, a pessoa sente-se valorizada pela possibilidade de despertar o interesse de outrem mas, por outro lado, é assolada por dúvidas como "Estarei a precipitar-me?", "O que é que os outros vão pensar? Julgar-me-ão?", "Que impacto é que este envolvimento pode ter na estabilidade das crianças?" "Estarei apaixonado(a) ou apenas a tentar preencher uma lacuna?". As dúvidas são legítimas e, nalguns casos, atingem o ponto de bloqueio emocional. Porque a tristeza se mistura com a activação fisiológica que a paixão acarreta, porque aquilo que o coração sente parece incompatível com a perda recente, porque é difícil discernir sobre as próprias emoções no meio de um processo tão impactante como o divórcio emocional.
Como afirmo tantas vezes em contexto terapêutico, viver com medo não é viver, pelo que, muitas vezes, temos de correr riscos. Claro que estes riscos não devem equivaler a tomadas de decisão marcadas pela impulsividade, sob pena de a dor e a frustração se estenderem no tempo. Ninguém precisa de construir uma imagem de si mesmo de coleccionador de fracassos.
São frequentes os pedidos de ajuda terapêutica da parte de pessoas que, sentindo-se incapazes de fazer escolhas seguras nesta fase da vida procuram através da Psicoterapia identificar e gerir as suas emoções de forma ponderada. Ao terapeuta não compete aconselhar e muito menos tomar decisões em nome do paciente. Mas um psicólogo treinado colocará as perguntas certas e promoverá a reflexão necessária para que a vida possa continuar a ser vivida com entusiasmo e segurança.