À medida que a esperança média de vida aumenta, surgem novas preocupações com os cuidados que, inevitavelmente, têm de ser prestados aos familiares mais idosos e dependentes. Nalguns casos, a institucionalização em lares é a única alternativa, mas muitas pessoas têm demonstrado a vontade de cuidar destes familiares mantendo-os no conforto personalizado do seu lar. Como já tive oportunidade de expressar antes, a prestação destes cuidados pode ser extenuante, levando a que os próprios cuidadores se sintam muitas vezes abatidos, fragilizados ou até deprimidos. Hoje centro-me no caso específico dos cuidadores que têm a seu cargo familiares acometidos por doenças como Alzheimer e outras formas de demência. Porquê? Porque estas pessoas são, comprovadamente, mais vulneráveis aos transtornos depressivos e ansiosos, particularmente quando não têm qualquer treino na prestação destes cuidados.
Um dos grandes constrangimentos que resulta destas situações está relacionado com o isolamento social dos cuidadores. Como nalguns casos a dependência dos familiares implica dedicação total, algumas pessoas sentem-se “forçadas” a abandonar a sua actividade profissional, pelo que as oportunidades de socialização diminuem drasticamente. Mas existem outros factores que contribuem para que estes cuidadores se sintam tantas vezes engolidos pelo problema:
Constrangimentos financeiros – mesmo que os membros da família se revezem e não seja necessário que alguém deixe de trabalhar, há quase sempre despesas acrescidas associadas a estas situações.
O comportamento do próprio doente – cuidar de um familiar com alguma forma de demência implica o confronto com a degeneração de muitas faculdades, o esforço contínuo de adaptação a novas realidades e exigências nem sempre razoáveis.
Falta de ajuda de outros familiares – não sendo propriamente uma tarefa fácil, a prestação destes cuidados acaba por ser muitas vezes motivo de discórdia na família. Não raras vezes, é a mãe de família que assume esta responsabilidade, de forma isolada.
O tempo necessário – a toma regrada de medicamentos é apenas uma das responsabilidades dos cuidadores, porventura a mais leve. Diariamente existem diversas tarefas que roubam tempo e que podem levar à exaustão.
Mudanças na relação – cuidar de um familiar com demência implica que o cuidador se relacione de forma completamente diferente com alguém com quem antigamente manteria uma relação mais equilibrada. O confronto com a deterioração cognitiva e emocional de um pai ou de uma mãe é penoso. Se no passado esta pessoa poderia ser uma fonte de afectos e de apoio emocional, agora as posições invertem-se e, em muitos casos, o idoso é tão dependente quanto uma criança pequena.
Existem milhões de pessoas em todo o mundo que assumem esta responsabilidade durante cinco, seis ou sete anos, mas há outras que desempenham este papel ao longo de quinze ou vinte anos.