Numa relação duradoura as mesmas afirmações parecem desprovidas de sentido. De facto, ninguém descobre ao fim de vários anos que casou com a pessoa errada porque, afinal, não partilham os mesmos interesses. Mais: a minha experiência clínica e as investigações nesta área mostram que os casamentos felizes e duradouros não têm como pilar essencial a partilha de interesses. Claro que a união é reforçada quando os membros do casal partilham determinados valores e respeitam os princípios de vida de cada um. Mas isso não deve ser confundido com a “necessidade” de gostarem das mesmas coisas. Se o Sr. X gosta de aeromodelismo, é provável que se sinta feliz pelo facto de a sua mulher aceitar que algumas horas do fim-de-semana possam ser dedicadas a esta actividade. Mas faria pouco sentido que as negociações do casal relativas aos tempos livres se baseassem na possibilidade de a Sr.ª X acompanhar o marido todos os fins-de-semana. E, mesmo que a Sr.ª X preferisse que o marido estivesse mais disponível ao fim-de-semana, seria ilógico atribuir, de repente, tanta importância a esta característica do marido.
A generalidade das nossas características está presente logo no início da relação conjugal e a passagem do tempo funciona como um aliado, já que nos permite aprender a lidar com as características de que menos gostamos no nosso cônjuge. Algumas pessoas alimentam a esperança, infundada, de que o cônjuge mude de forma significativa, ou seja, que passe a agir à sua imagem e semelhança. Mas quem gostaria de mudar à imagem dos interesses do companheiro?