Há uma metáfora que utilizo frequentemente em terapia de casal e que tive oportunidade de descrever no livro “Sobreviver à Crise Conjugal” – a do hóspede fantasma.
Imagine que no último mês um hóspede invisível se teria instalado em sua casa. Mais: esse hóspede tê-lo-ia observado sempre que estivesse com o seu cônjuge. Se esse “fantasma” fizesse um relatório que incluísse todas as provas de que tinha estado na presença de um casal, o que é que referiria? Que gestos, que palavras, que episódios poderiam ser assinalados como evidências claras de que se tratava de uma relação amorosa?
Estas questões permitem que o casal reflicta sobre o seu comportamento recente em termos do amor romântico. Nalguns casos, as “provas” são assinaladas com facilidade, o que representa sempre um bom prognóstico. Outros assinalam “provas inválidas”, que denunciam alguma dificuldade em distinguir a relação amorosa de outras relações familiares. Por exemplo, se o casal assinalar um passeio na praia, de mãos dadas, isso não representa uma ilustração válida. Porquê? Porque este comportamento poderia ser desenvolvido entre pais e filhos, entre amigos ou entre irmãos e, portanto, não é exclusivo de uma relação amorosa. Às vezes é preciso algum esforço para encontrar comportamentos específicos que nos garantam a existência de amor romântico.
Os casais cujas dificuldades são mais profundas reconhecem que esses gestos são escassos ou inexistentes.
No entanto, esta reflexão não deve gerar interpretações abusivas. Os casais que investem no amor romântico não estão imunes aos problemas conjugais, nem tão pouco têm a garantia de que jamais precisarão de ajuda especializada. Do mesmo modo, nem tudo está perdido para os casais que se esqueceram de namorar.
Esta metáfora terapêutica constitui um ponto de partida para as mudanças que o próprio casal reconhece como necessárias. Tal como acontece com outros instrumentos de trabalho, o que se pretende é promover o conhecimento mútuo, identificar as necessidades de cada um, as lacunas e as mais-valias existentes.
Neste caso, o papel do terapeuta passa por clarificar a importância das variáveis associadas ao amor romântico – expressão verbal do amor, expressão física, expressão sexual, expressão material, apoio emocional, expressão de admiração mútua, partilha de experiências, capacidade de fazer cedências e promoção de períodos de tempo só para o casal – e a sua influência na satisfação conjugal.
Nenhum casal vive num clima de constante romance. Aliás, tal como já tive oportunidade de referir antes, existem fases de maior cumplicidade e sintonia e fases de algum afastamento. Contudo, nenhum amor resiste a períodos significativos sem ser alimentado.