Todos os pais cometem erros sérios. TODOS. Embora sejamos, de geração em geração, cada vez melhores pais, estamos longe da perfeição. Nenhum pai ou mãe consegue que o seu amor se traduza na disponibilidade total e permanente para responder com afeto às necessidades das crianças. Ainda que conheçam a teoria das boas práticas, é natural que a maior parte dos pais e mães gritem de vez em quando. É natural que se descontrolem. É natural que assumam uma postura excessivamente controladora. Até pode acontecer que se enervem ao ponto de dar uma palmada. Isso NÃO os transforma em maus pais. Somos humanos. Temos os nossos problemas. E ainda que, na maior parte do tempo estejamos “lá” para os nossos filhos, é expectável que falhemos sem que isso provoque grandes danos. O importante é que as crianças cresçam “inundadas” de demonstrações claras de afeto.
Mas há casos de pais que não erram apenas pontualmente. Há pais e mães que erram de forma continuada. Há crianças que lidam diariamente com padrões de relacionamento que as destroem por dentro. Esses são os casos de pais tóxicos.
Os pais tóxicos assumem comportamentos abusivos, muitas vezes de forma disfarçada, e causam trauma. Às vezes, os abusos estendem-se até à idade adulta.
São exemplos de comportamentos abusivos:
- Espancamento. Usar a violência física para “educar”.
- Hipercrítica. Dizer à criança que ela não presta para nada.
- Deixar a criança demasiado tempo SOZINHA.
- Abuso de álcool ou drogas.
- Imposição das regras através do medo.
- Colocar nos ombros da criança responsabilidades dos adultos.
- Chantagem emocional.
Os adultos com quem tenho trabalhado e que foram vítimas de comportamentos abusivos dos pais mostram quase sempre problemas de autoestima e muitas vezes assumem comportamentos autodestrutivos.
Na maior parte dos casos estes sentimentos estão associados ao facto de terem crescido com a sensação de que eram os culpados pelos abusos. Quando se é criança, é mais fácil acreditar que o papá ou a mamã teve um acesso de raiva porque a criança se portou mal. É muito mais difícil perceber que aquele adulto, que deveria amar e proteger, não é, na verdade, uma pessoa de confiança. E à medida que o filho cresce, é natural que se transforme num adulto inseguro, que carregue sentimentos de culpa e de inadequação.
A ajuda terapêutica implica que a vítima, hoje adulta, perceba que não é responsável por aquilo que lhe fizeram quando era uma criança indefesa. Mas também passa por ajudá-la a implementar estratégias, pela positiva, que lhe permitam libertar-se da influência dos abusos – independentemente da relação que atualmente exista com os pais.