Eu tinha a certeza de que ele andava a trair-me. Não era só uma intuição. Eu tinha a certeza. E era óbvio que ele não ia confessar, por isso, não o confrontei. Preferi montar um plano que me parecia perfeito: criei um perfil de Facebook falso e assediei-o. Ele aceitou o meu pedido de amizade. Bingo! Esta era a primeira prova de que o meu marido andava a envolver-se com outras mulheres. Meti conversa com ele algumas vezes e acabámos por tornar-nos amigos virtuais. Fiquei à espera que um dia ele pudesse chegar a casa e falar-me da nova amizade. Em vez disso, remeteu-se sempre ao silêncio, evidenciando, mais uma vez, um comportamento comprometedor. Afinal, se ele não tivesse intenção de me trair, contar-me-ia. Um dia enviei-lhe uma fotografia minha numa pose ousada e ele deixou de me responder. Nessa altura eu tive outra certeza: ele estava envolvido com outra mulher. Só isso podia justificar o seu desprezo. O meu marido não queria trair a amante! Eu só precisava de uma prova concreta. Pus mãos à obra e, em pouco tempo, descobri as passwords de acesso ao e-mail e ao Facebook mas ele já tinha apagado tudo, exceto as conversas que tinha tido comigo. Não aguentei e confrontei-o. Ele disse-me que sabia, desde o início, que a pessoa com quem andava a trocar mensagens era eu. Decidiu parar com a brincadeira quando achou que eu estava a ir longe demais. E não perdoou o facto de eu ter invadido as suas contas.
Os jogos do gato e do rato marcam muitas das histórias de vida que têm passado pelo meu gabinete. Há quem nunca tenha sido ciumento e passe a bisbilhotar o telemóvel do companheiro em busca da confirmação de um pressentimento. Há quem invada as contas de e-mail do mais-que-tudo com a desculpa de que ele passou a ter comportamentos suspeitos. Há quem dê voz à pulga atrás da orelha instalando gravadores no carro do cônjuge. Vale tudo quando alguém acha que pode estar a ser traído. A sensação é de tal modo avassaladora que a pessoa chega ao ponto de fazer aquilo que não deve, aquilo que sempre jurou que seria incapaz de fazer. Às vezes estes comportamentos “à detetive” permitem aceder à verdade que o cônjuge negava a pés juntos. Noutros casos este é apenas o primeiro passo para uma espiral de desconfiança.
Não posso nem quero julgar quem o faz. Quero, isso sim, chamar a atenção para os riscos que uma pessoa corre quando cede à tentação de dar voz à sua insegurança invadindo a privacidade do companheiro. Não é só a relação que está em risco. É sobretudo a autoestima de quem se julga traído que, através destes comportamentos, passa a afundar-se. Porque não há nada de digno nestas ações. Porque é só uma questão de tempo até que a pessoa caia em si e sinta vergonha do próprio comportamento.
Insisto: a possibilidade de se estar a ser traído é aterradora. A pessoa pode sentir-se perdida, desnorteada. De repente, sente que o chão lhe foge, que a pessoa em quem apostou todas as fichas pode estar a comportar-se como um “cafajeste”. E desespera. É precisamente o desespero que pode fazer com que alguém abdique dos próprios valores e ponha mãos à obra. De um modo geral, quando isso acontece, em vez de um passam a existir dois problemas. Se há desconfiança, há pelo menos um problema sério, que deve merecer a devida atenção. Mas quando a POSSIBILIDADE de um dos membros do casal estar a prevaricar dá lugar a estes comportamentos, cria-se um fosso maior, às vezes irreversível.
Eu sei que a maioria das pessoas que traem negam. E quem se julga traído também sabe. Mas há alternativas. Se uma relação não estiver bem e um dos membros do casal estiver dominado pela desconfiança, deve equacionar-se a possibilidade de pedir ajuda especializada. A terapia de casal permitirá escancarar as dificuldades e tratá-las da forma certa, permitindo que, se for essa a vontade de ambos, os membros do casal possam continuar a caminhar juntos sem prevaricar.