Nas conversas do dia-a-dia confunde-se muitas vezes tristeza e depressão. Algumas pessoas, por exemplo, assumem-se como deprimidas quando, na verdade, estão tristes e, noutros casos, rotula-se alguém como uma pessoa triste quando, na prática, aquela pessoa está doente. Essa é a principal diferença entre tristeza e depressão: uma é uma emoção, comum a todos os seres humanos, presente nalgumas fases da nossa vida e perfeitamente ajustada a determinadas circunstâncias; a outra é uma perturbaçãoemocional, que pode implicar uma tristeza intensa e recorrente, dentre outros sintomas (físicos e emocionais).
Em função da perda física de alguém, de uma situação de desemprego ou até das saudades de quem está longe, é natural e adaptativo sentirmo-nos tristes.
Não há por que ter medo desta emoção nem é saudável reprimi-la.
Na medida em que formos capazes de exteriorizar a nossa tristeza, sentir-nos-emos provavelmente mais aliviados e até amparados, desde que o façamos junto de alguém da nossa confiança. Dessa exteriorização resulta ainda a possibilidade de ouvirmos e interiorizarmos a mensagem de que “É normal” e de que “Vai passar”.
E passa. Sempre.
De resto, essa é outra grande diferença entre tristeza e depressão – a tristeza é situacional, transitória e desaparece na medida em que formos capazes de resolver os nossos problemas e/ou de centrar a nossa atenção noutras áreas da vida. A depressão é uma doença que teima em manifestar-se de forma contínua, transformando-se quase sempre numa perturbação incapacitante, que nos impede de dedicar energia às mais diversas áreas da vida.
Quando alguém assume que um familiar ou amigo está apenas triste e procura incentivá-lo com comentários do tipo “Olha à tua volta, tens uma família fantástica, um emprego extraordinário…” ignora que pode estar a fazer mais mal do que bem. Porquê? Porque a depressão é uma doença que pode implicar o desinteresse por tudo aquilo que antes era gerador de alegria e entusiasmo. Porque, por muito que o paciente que está deprimido se esforce, a força de vontade não é suficiente para dar a volta à situação.
De resto, para quem está de fora e nunca lidou com esta perturbação pode ser muito angustiante – irritante até! – perceber que a pessoa deprimida não tem vontade de fazer nada, não sai de casa e/ou passa o dia a dormir. Estaanedonia (ausência da capacidade para sentir prazer) é uma das características da doença que mais frequentemente se manifesta. Mas há outros sintomas que podem acompanhar um doente com depressão:
Sensação de vazio
Irritabilidade constante
Diminuição do interesse pelas atividades do dia-a-dia
Alterações de peso e/ou do apetite
Alterações do sono (hipersónia ou insónia)
Agitação ou, pelo contrário, lentificação
Fadiga/ falta de energia física
Sentimentos de culpa
Sensação de inadequação
Dificuldades de concentração
Ideação suicida
Como a depressão pode manifestar-se de forma diferente de pessoa para pessoa (e, nalguns casos, até nem é a tristeza que é particularmente visível), pode ser difícil, para quem está à volta, reconhecer a presença da doença. Mas como é uma perturbação que se estende no tempo, dominando o dia-a-dia de quem dela padece, é quase sempre identificável pela própria pessoa que, mesmo que não lhe atribua um nome, sabe que algo não está bem.
Se sofre com alguns dos sintomas descritos acima, peça ajuda.
Ao contrário da tristeza, a depressão não desaparece sem intervenção clínica.