Há dias em que as preocupações teimam em andar em círculos pela mente,
exacerbando o nervosismo e a consciência de que alguma coisa deve ser feita.
Mas também há outros em que nada importa,
nenhuma decisão é verdadeiramente significativa
e tudo fica para depois.
Na maior parte do tempo, quando o doente está sob uma depressão moderada ou grave, é extremamente difícil implementar um processo de tomada de decisões. Muitas vezes a pessoa até é capaz de identificar os problemas de forma clara mas depois há toda a sintomatologia física e psicológica que a impede de dar continuidade ao raciocínio que iniciara.
Em função dessa inação é provável que os problemas se avolumem,
permitindo que o desespero também cresça de dia para dia
e que as relações afetivas se deteriorem.
Não é mesmo nada fácil para quem está à volta – sobretudo para quem nunca teve contacto com a depressão – perceber este modo de funcionamento. Para a generalidade de nós está relativamente claro que os problemas precisam de ser resolvidos, pelo que, uma vez identificada uma dificuldade específica, é quase sempre expectável que a pessoa envolvida ponha mãos à obra para ultrapassar o obstáculo em causa. É, por isso, muito difícil compreender como é que alguém pode ser capaz de não fazer nada perante um determinado problema. E é ainda mais difícil compreender este padrão comportamental quando, para quem está de fora, fica claro que há soluções óbvias para o problema.
Se uma pessoa desenvolver uma depressão reativa em resposta a uma situação de desemprego, pode parecer óbvio que ficar em casa, de braços cruzados, não é uma opção válida. Mais: se, de repente, um amigo sugerir uma oportunidade de trabalho, passa a ser “óbvio” que a ida àquela entrevista de emprego é um passo fundamental para a resolução do problema de base, pelo que é legitimamente incompreensível para os familiares e amigos próximos daquela pessoa que ela hesite em fazê-lo. No entanto, a depressão pode levar a estes mecanismos perversos, roubando o discernimento, a capacidade de racionalizar sobre os problemas ou a capacidade para ver o “óbvio”. Para a pessoa que está deprimida aquela entrevista de emprego pode passar a ser vista como “mais um problema”, na medida em que representa, mais do que uma oportunidade (para resolver o problema inicial), uma fonte de ansiedade. Pensamentos automáticos negativos do tipo “De certeza que vou falhar”, “Vou envergonhar o amigo que me está a dar esta oportunidade” ou “Não presto para nada” podem inundar a cabeça da pessoa deprimida e, no limite, impedi-la de fazer a escolha mais ajustada. E quem está à volta pode nem sequer ter a oportunidade de desconstruir estes pensamentos irracionais, tendo acesso apenas à decisão final – “Não vou!”
É (também) por isso que a Psicoterapia é uma ajuda fundamental para as famílias atingidas pela depressão. Por um lado, é crucial que o paciente seja acompanhado e que da aliança terapêutica com o psicólogo surja a possibilidade de trabalhar todos os medos e crenças irracionais. Mas é também importante que os familiares mais próximos sejam ouvidos, se sintam amparados e recebam informação específica que os ajude a compreender aquilo que, à primeira vista, pode parecer inconcebível. Na medida em que todos forem ajudados, aumenta a probabilidade de se evitar equívocos que podem destruir as relações afetivas. Quanto mais amparado o paciente se sentir, maior é a probabilidade de recuperar de forma célere e sólida.