Qualquer relação amorosa é ancorada na segurança emocional dos membros do casal. Esperamos que a pessoa que está ao nosso lado dê o seu melhor para nos fazer sentir seguros e a última coisa com que contamos é com a possibilidade de vermos a nossa confiança quebrada. Mas a infidelidade é uma realidade que afeta uma percentagem significativa de casais e, em muitos casos, esse é o ponto de partida para a terapia conjugal. Sendo certo que nem todas as relações sobrevivem a uma relação extraconjugal, não é menos verdade que, desde que (ainda) haja afeto, vontade de reconstruir a relação e ajuda especializada, é possível dar a volta.
Mas comecemos pelo princípio: na maior parte das vezes, os membros do casal procuram ultrapassar o problema fechando-se sobre si mesmos. Afinal, a última coisa que desejam é expor a alguém aquilo que lhes está acontecer. Só que a força de vontade pode não ser suficiente para gerir um problema tão delicado. A pessoa que foi traída sente-se progressivamente mais insegura e começa muitas vezes a colocar em causa a honestidade do cônjuge, as suas reais intenções, os afetos e, claro, os comportamentos. Começa a erguer uma espécie de barreira, apesar de querer manter o casamento. Na maior parte dos casos a pessoa ignora que haja feridas emocionais que a estão a condicionar e só mais tarde percebe que é necessária a ajuda clínica.
O PASSADO AFETIVO DE CADA UM TAMBÉM CONTA
Se uma pessoa já foi traída noutra relação ou se tiver havido problemas de confiança com a família de origem, é possível que se transforme numa pessoa desconfiada, acabando por transpor para a relação amorosa esta fragilidade. Sem querer, a pessoa que tem estas vulnerabilidades pode até, sem querer, causar problemas sérios à sua relação. Algumas pessoas parecem colecionar traições, acabando por escolher, mais do que uma vez, parceiros amorosos que traiam a sua confiança.
Noutros casos, o problema não é a desconfiança mas antes o facto de a pessoa confiar demais. Quando é que isto acontece? Por exemplo, quando, em função da carência afetiva, a pessoa envereda por relações pouco equilibradas em termos de poder, marcadas pela idealização excessiva e pela falta de assertividade. Nestes casos, há uma negação dos sinais que levariam à quebra de confiança.
COMO É QUE AS MARCAS DE INFÂNCIA
NOS PODEM CONDICIONAR?
Quando os pais não são capazes de construir uma vinculação segura com os seus filhos, estes podem crescer e transformar-se em pessoas inseguras, desconfiadas. Mas desta carência afetiva também pode resultar uma projeção dos afetos que leva a que os filhos, já na idade adulta, olhem para outras pessoas como potenciais cuidadores, potenciais substitutos do amor que ficou por receber. Transferem toda a sua carência para essas relações porque desejam, acima de tudo, encontrar alguém que cuide de si, que as ame, e isso pode levá-las a ignorar sinais importantes.
RECONSTRUIR A CONFIANÇA
Depois de a confiança ser quebrada, um pedido de desculpas pode não ser suficiente (e na maior parte dos casos não é). O cônjuge que traiu até pode mostrar-se arrependido e, de forma sincera, dar mostras de que quer lutar pela relação. Mas, de um modo geral, é preciso mais:
Escutar as mágoas e ressentimentos da pessoa que foi traída.
Ser solidário com a raiva e a tristeza.
Identificar o que pode ser feito para prevenir uma recaída.
Ser capaz de cumprir com tudo o que ficar acordado sobre demonstrações de confiança.
Assumir a responsabilidade pelo próprio comportamento.
Mostrar arrependimento sincero.
Implementar estratégias de comunicação transparentes.
Na verdade, a clareza e a honestidade são elementos fundamentais na comunicação após uma infidelidade. É preciso que a pessoa que traiu questione a pessoa que foi traída sobre aquilo que pode ser feito para que esta última se sinta progressivamente mais segura. Além de evidenciar respeito pelos sentimentos e pelas necessidades do cônjuge, a pessoa que traiu está, assim, a fazer o que está ao seu alcance para começar a sarar esta ferida. Isso é muito mais do que um simples pedido de desculpa. É um compromisso que não pode ser quebrado, sob pena de a confiança não poder ser reconstruída.
Quando, apesar destes esforços, os membros do casal não são capazes de ter conversas produtivas, o melhor passo é o pedido de ajuda a um terapeuta conjugal. A terapia serve precisamente para que, nestes casos, o casal possa olhar para as causas do problema e possa desenvolver estratégias seguras para que a confiança seja reconstruída. Procurar essa ajuda não é um sinal de fraqueza. Mostra, isso sim, compromisso com a relação, capacidade de reconhecer que há um problema sério e vontade de manter o casamento.