(Texto elaborado para a Revista Happy Woman)
Em primeiro lugar, importa notar que, em terapia, fala-se mais de queixas do que de defeitos. Bem sei que, para efeitos de reportagem esta pode ser apenas uma questão de semântica mas a verdade é que há uma diferença substancial entre olharmos para os hábitos/ comportamentos do outro de que não gostamos (e que, por serem de um modo geral situacionais são potenciais alvos de mudança) e olharmos para os mesmíssimos comportamentos como defeitos ou falhas de personalidade (impossíveis de mudar). E por que enfatizo esta diferença? Porque qualquer um de nós é capaz de implementar mudanças profundas em nome da relação conjugal. Mas as coisas complicam-se, em larga escala, quando, em vez de nos confrontarmos com as necessidades e emoções do nosso cônjuge nos confrontamos com uma LISTA DE ACUSAÇÕES. A forma como respondemos a estas acusações (lista de defeitos) tende a ser instintiva: como nos sentimos atacados, das duas, uma - ou nos fechamos sobre nós mesmos, ou contra-atacamos de forma feroz, aumentando a escalada da discussão.
Feita esta nota, creio que é possível identificar algumas das QUEIXAS que os homens mais frequentemente fazem às mulheres:
AS MULHERES GOSTAM DE DISCUTIR.
Um dos ciclos viciosos mais frequentes e mais perigosos na comunicação conjugal instala-se quando a mulher procura resolver uma questão que, aos seus olhos, é um problema, "bombardeando" o marido com questões e manifestações de insatisfação e o marido ignora estes apelos. Na prática estamos a falar do desespero da mulher, que acaba por desencadear uma ativação fisiológica no marido e que é (até fisicamente) insuportável. Como o marido não se sente capaz de lidar com aquela ansiedade, procura fugir da discussão, na esperança (vã) de que as coisas acalmem. Escusado será dizer que este padrão relacional se assemelha ao jogo do gato e do rato, isto é, quanto mais ele foge, mais ela desespera e insiste no "Precisamos de conversar" que, aos ouvidos dele soa a "Precisamos de discutir".
AS MULHERES NÃO GOSTAM/ NÃO PRECISAM
TANTO DE SEXO COMO OS HOMENS.
Existem algumas diferenças de género no que diz respeito ao eixo intimidade emocional - intimidade sexual que são facilmente transformadas neste tipo de mitos. As mulheres (de uma maneira geral) valorizam o sexo tanto quanto os homens mas precisam de se sentir emocionalmente seguras para que se entreguem à intimidade sexual com a disposição de sempre. Bastar-lhes-á que haja algum problema noutra área da conjugalidade para que o desejo e a frequência sexual diminuam. Como para a generalidade dos homens as coisas funcionam ao contrário - isto é, é preciso que haja satisfação sexual para que eles se entreguem do ponto de vista emocional -, é fácil antever o risco de ciclos viciosos.
AS MULHERES SÓ QUEREM SABER DOS FILHOS.
Nalguns casos, o nascimento do primeiro filho implica uma autêntica revolução na relação conjugal. E essa revolução é tão mais perigosa na medida em que houver problemas sérios anteriores a esta mudança. Então, há alguma probabilidade de os membros do casal se afastarem e de as mulheres canalizarem boa parte da sua atenção ao papel parental, descurando o papel conjugal. Em muitas destas situações ambos estão “anestesiados” e comprometidos com outros papéis que não o papel conjugal e é só uma questão de tempo até que soe o alarme.
AS MULHERES NÃO COMPREENDEM OS
HOMENS/ SÃO EXCESSIVAMENTE CRÍTICAS.
Quando a comunicação começa a falhar, é relativamente fácil cair-se num rol de acusações e braços-de-ferro. Como as mulheres são, genericamente, mais atentas aos detalhes, são também mais minuciosas na análise da relação e tendem a manifestar aquilo que as insatisfaz sem freio. De um modo geral, quando há problemas, os homens também têm queixas a fazer mas sentem-se muitas vezes injustiçados e desmotivados pelas chamadas de atenção que lhes são feitas.