Terminar uma relação é sempre uma decisão difícil, a menos que se leve a vida de forma absolutamente despreocupada e irresponsável. A verdade é que, mesmo quando alguém assume que deixou de amar o seu companheiro, sente-se de algum modo responsável pelo bem-estar do outro, pelo que não raras vezes há sentimentos de pena e até de culpa que precisam de ser geridos. Além disso, há a própria perda, que leva algum tempo a ser ultrapassada. E desde que se tenha investido na relação que agora termina, há perda – mesmo que esteja claro que a separação é a decisão a tomar.
Algumas pessoas consideram – erradamente – que não há nada melhor para “curar” uma separação ou um divórcio do que começar uma nova relação, como se uma paixão ou uma amizade colorida pudessem compensar a perda recente. Do meu ponto de vista, esta postura é demasiado arriscada, tal como o seria tapar uma ferida sem a desinfetar primeiro. Ainda que doa, é preciso olhar para as nossas feridas emocionais, é preciso tratá-las. E isso pode levar algum tempo.
QUANTO TEMPO?
“O tempo que for preciso” pode não ser uma resposta muito clara nem objetiva mas é a resposta mais honesta. As relações amorosas que ficam para trás merecem um período de luto, mesmo para aqueles que tomaram a iniciativa de terminar. Há sonhos e expetativas que foram por água abaixo e que precisam de ser geridos com cuidado. Não há um número exato que possa ser fixado como o tempo ideal para que esse luto seja feito.
Para alguns especialistas, é razoável pensar que,
entre o fim de uma relação e o início de outra
deva existir aproximadamente
UM MÊS POR CADA ANO DE RELAÇÃO.
Isto é, se um casamento/ namoro durou 8 anos, então dever-se-ia esperar pelo menos 8 meses até que se pudesse pensar num novo relacionamento. Claro que na vida é praticamente impossível seguir fórmulas matemáticas. Além de que seria tudo mais entediante, digo eu.
Aquilo que me parece razoável é que a pessoa recém-separada possa sentir-se suficientemente à vontade para exteriorizar todos os pensamentos e emoções associados à relação que terminou, sem medo de ser julgada, sem constrangimentos. Isso pode ser feito por escrito – a criação de um diário ou até de um blogue pode ser terapêutica – mas também deve ser feito oralmente, junto das pessoas em quem se confia ou até de um terapeuta, se houver essa necessidade. O mais importante é que a pessoa não reprima estes pensamentos, nem se preocupe com aquilo que os outros possam pensar. Não raras vezes, a pessoa que tomou a iniciativa de romper um relacionamento evita falar sobre as marcas que ficaram daquela relação com receio de que os outros pensem que ele(a) está arrependido(a), por exemplo. Ou com receio que os outros fiquem aborrecidos (“Está sempre a falar no mesmo”). A verdade é que desta estruturação de pensamentos e sentimentos resulta o facto de a pessoa se sentir progressivamente mais forte, com mais inteligência emocional.
À medida que o tempo vai passando é suposto que a pessoa vá refletindo sobre algumas questões, que a ajudarão a seguir em frente:
Porque é que a minha relação acabou?
O que é que o meu Ex diria sobre os motivos que levaram à nossa separação?
Há alguma coisa em comum entre o fim desta relação e o fim das minhas relações anteriores?
A relação acabou mesmo ou há alguma coisa por resolver?
Quais são os meus sentimentos em relação ao meu Ex?
Como é que eu me sinto em relação ao fim deste relacionamento? Ainda alimento alguma esperança de que possamos voltar?
Já fiz o luto?
A ideia não passa por responder a estas questões uma única vez, mas antes por voltar a refletir sobre elas de vez em quando, até que deixe de fazer sentido. Até que esteja claro o que é que correu mal. Até que a própria pessoa seja capaz de identificar aquilo que fez bem e os erros que cometeu naquela relação. Para que se possa refletir sobre aquilo que se procura numa nova relação.
Este é outro eixo fundamental na reflexão que se pretende que ocorra depois de uma separação. Porque há pessoas que aparentemente cometem SEMPRE os mesmos erros. Porque há pessoas que escolhem SEMPRE o mesmo “tipo” de parceiros. Para que se passe a fazer escolhas mais saudáveis e se fuja aos relacionamentos problemáticos é fundamental responder a outras questões:
O que é que eu aprendi com a escolha do(s) meu(s) parceiro(s) anterior(es)?
Será que escolho sempre o mesmo tipo de pessoa? Será que tenho cometido sempre os mesmos erros? Tenho escolhido pessoas que não me respeitam? Ou que não me dão o afeto que eu mereço?
Que características é que eu valorizo num companheiro?
Estarei à procura de qualidades que eu próprio(a) não possuo?
Estarei preparado(a) para viver com alguém que seja diferente de mim? Serei capaz de aceitar que é impossível mudar o outro?
O que é que preciso mudar em mim para poder ser feliz numa nova relação?
Nenhuma relação acaba por “culpa” de uma das partes. Cada relação é uma dança cujo ritmo é definido pelos dois. Ambos são corresponsáveis pela forma como a dança decorre. Ambos são corresponsáveis pelo seu fim.
Para que se possa investir numa nova relação de forma saudável é essencial que nos sintamos confortáveis na nossa própria pele. A sensação de se ter um companheiro é, efetivamente, muito boa. Mas pode ser temporária se não estivermos preparados. Acha que está preparado para uma nova relação? Então responda a (só mais) estas questões:
Sinto-me suficientemente forte sozinho(a)? Gosto da minha vida (independentemente de ter ou não um companheiro)?
Sei quais são os pilares de uma relação amorosa emocionalmente inteligente?
Sei ser um companheiro emocionalmente inteligente?
Há outras coisas na minha vida que me preencham ou passo a vida à procura de/ a pensar em ter uma nova relação?
Há outras relações afetivas (não amorosas) na minha vida?
Estarei a evitar alguma coisa?
Sei o que é que procuro numa relação amorosa? Compromisso? Diversão?
Sei expresser de forma clara e honesta aquilo de que preciso numa relação?
Calma! Ninguém está permanentemente 100% seguro de si e daquilo que pretende numa relação. Contudo, a reflexão que resulta deste tipo de questionamento é a base para que se faça escolhas emocionalmente mais inteligentes e, portanto, se cometa menos erros.