Hoje não escrevo sobre o Facebook, mas sobre as pessoas que nos rodeiam, aquelas que compõem a nossa real rede social e do impacto desses laços no nosso bem-estar emocional. A maior parte das pessoas consegue identificar o nome daqueles que têm alguma importância para si do ponto de vista dos afectos. Sem pensar muito no assunto, muitos de nós incluirão nesta lista um rol de familiares e amigos, ainda que uns sejam significativamente mais importantes do que outros. Às vezes sentimo-nos tentados a resumir nesta lista as pessoas que estão geograficamente próximas e "apagamos" outras que não vemos há algum tempo mas cuja importância vai muito além da proximidade física.
Uma análise rigorosa acerca das pessoas que realmente fazem parte da nossa rede social, da nossarede de afectos, pode ser crucial num processo terapêutico com pacientes deprimidos e/ou dominados por pensamentos que distorcem negativamente a realidade. De resto, esse é um dos exercícios que proponho regularmente nas consultas de terapia individual e que funciona como ponto de partida para a desconstrução de algumas crenças irracionais enraizadas ao longo do tempo e para o surgimento de pensamentos mais optimistas e realistas.
Refiro-me à possibilidade de o paciente aceder, a partir do momento em que elabora o esquema da sua rede social, àquilo que estas pessoas pensam/sentem a seu respeito. De um modo geral, a cooperação de quem está do outro lado é positiva, o que potencia o efeito terapêutico do exercício. O objectivo não é pedir a estas pessoas para animarem o familiar ou o amigo através de uma lista de elogios e bajulações mas sim permitir que a análise sincera e equilibrada de cada uma destas pessoas ajude o terapeuta a ajudar o seu paciente. E isso implica clareza e honestidade na identificação dos pontos positivos e negativos da pessoa em causa.
Aceder a perspectivas diferentes a respeito daquilo que somos, da forma como actuamos, é enriquecedor e, quase sempre, surpreendente. Como nos revelamos de forma diferente consoante os contextos em que circulamos, acabamos por revelar fragmentos da nossa personalidade a cada uma dessas pessoas.
Além disso, cada familiar, colega, vizinho ou amigo possui a sua própria sensibilidade e esta toldará de alguma forma a sua análise. O resultado é um conjunto de perspectivas que ajuda a pessoa em terapia a questionar rótulos antigos acerca de si mesma e a perspectivar mudanças que antes não equacionara.
Todos sabemos que aquilo que os outros pensam a nosso respeito condiciona a nossa autoconfiança e, por consequência, o nosso comportamento. Mas quando damos asas à imaginação e confiamos esta análise ao nosso cérebro, corremos o risco de os nossos pensamentos mais negativos distorcerem a realidade, limitando a nossa segurança. Conhecermo-nos de forma profunda também passa pelas aprendizagens que fazemos através dos laços que construímos. Se aqueles com quem convivemos, a quem nos revelamos, partilharem connosco uma parte daquilo que vêem em nós, ajudar-nos-ão a identificar as reais dificuldades e os reais recursos para enfrentar os problemas.