Há muitas pessoas que se referem ao cônjuge como o seu melhor amigo. Salientam o facto de, para além da componente romântica e sexual, o parceiro constituir a pessoa em quem mais confiam e com quem sentem que podem partilhar tudo. A maior parte destas pessoas até é capaz de assumir que essa amizade que os une é a base da satisfação conjugal, o que pode deixar alguns jovens casais em estado de choque, na medida em que, no início da paixão o outro é, antes de mais, o amante e não o amigo. Mas a verdade é que quem vive uma relação apaixonada que perdure no tempo conhece a importância desta base para a satisfação conjugal.
À medida que a activação fisiológica vai passando para níveis mais serenos, que nos permitem voltar a trabalhar e a querer estar com outras pessoas para além da pessoa amada, acontece uma de duas coisas: ou a relação amadurece e a vontade de continuar com aquela pessoa é ainda mais forte, ou a sensação de vazio acelera a ruptura. O amadurecimento da relação não implica que o amor arrefeça nem tão pouco que os membros do casal se transformem em amiguinhos que, de vez em quando, partilham a cama. Quando os laços se fortalecem e os membros do casal se sentem progressivamente mais seguros daquilo que sentem e do que o cônjuge sente, surgem novas competências de forma quase instantânea. Aquelas duas pessoas sentem-se verdadeiramente conectadas e isso passa por, sem pensarem muito nisso, estarem quase sempre "lá" para o outro. O que é que isto quer dizer? Em primeiro lugar quer dizer que, como bons amigos que também são, os membros do casal prestam muita atenção mútua, mostram interesse genuíno por aquilo que o outro diz ou faz. Vibram com as suas vitórias, mostram entusiasmo, colocam perguntas, escutam com atenção.
Depois, estas pessoas revelam outra competência que qualquer um de nós busca nos melhores amigos - a disponibilidade. O cônjuge passa a ser aquela pessoa com quem sabemos que podemos contar, aquele a quem recorremos primeiro quando precisamos de um conselho ou pura e simplesmente de colo. Mas a disponibilidade não se traduz apenas no apoio emocional mútuo. Afinal, estar disponível para o outro também passa por reagir às suas chamadas de atenção, estar aberto à mudança, desde que esta seja razoável e promova a satisfação da pessoa que amamos.
Finalmente, os amantes que afinal também são amigos evidenciam níveis profundos de confiança. O parceiro é, de um modo geral, uma pessoa confiável, alguém a quem estamos dispostos a contar o pior de nós, alguém que conhece o nosso lado menos glamouroso e alguém com capacidade para cuidar, alguém que mostra de forma muito clara que gosta de nós e que se preocupa connosco.
Mas será a amizade suficiente para manter uma relação amorosa? Será que todos os casamentos acabam porque os membros do casal deixaram de olhar um para o outro como companheiros? Não. E não. Há muitas relações que não sobrevivem à passagem do tempo, ao crescimento individual de cada um e aos obstáculos da vida, ainda que os membros do casal continuem a admirar-se mutuamente e a reconhecer que são os melhores amigos. Mas ser amigo não basta para manter um casamento e é por isso que o sofrimento é enorme quando se chega à conclusão que o amor romântico desapareceu.