Os resultados de uma pesquisa realizada no Reino Unido têm sido amplamente difundidos pelos meios de comunicação social e, claro, pelas redes sociais como o twitter ou o facebook. Segundo este estudo, as razões apontadas para o divórcio prendem-se agora muito mais frequentemente com o fim do amor do que com a existência de relações extraconjugais, ao contrário do que mostrara uma pesquisa idêntica realizada há alguns anos. O mundo parece assim surpreendido com a aparente evolução da sociedade que já não se escuda atrás de uma nova relação para pôr termo a um casamento irreversivelmente infeliz.
Como as conclusões do estudo têm sido apresentadas de forma mais ou menos superficial, creio que vale a pena reflectirmos um pouco mais detalhadamente sobre o tema. Antes de mais, e como tenho referido tantas vezes, salvo raras excepções, os motivos que podem abrir espaço para o aparecimento de uma terceira pessoa são os mesmos que estão subjacentes ao fim de um casamento. É também por isso que me causa muita estranheza sempre que alguém centra a sua atenção apenas na possibilidade de estar a ser traído e acaba por sentir-se tranquilo perante a inexistência de provas de infidelidade... Mesmo que existam vários sinais de alarme a respeito da insatisfação no casamento.
É precisamente por continuarmos a desvalorizar as queixas do cônjuge e centrarmos a nossa atenção na (in)existência de terceiras pessoas que corremos mais riscos. Até há relativamente pouco tempo a infidelidade era, efectivamente, o alarme que faria com que um casal tivesse de escolher entre o divórcio e a reconstrução do casamento. Nos dias que correm é pouco inteligente "esperar" por este alarme.
Infelizmente, algumas pessoas sentem-se mais surpreendidas quando o pedido de divórcio surge sem que haja uma terceira pessoa envolvida - como se só isso pudesse justificar o fim da relação. Estranham que o cônjuge possa ter desistido de lutar, possa estar cansado de chamar a atenção para as necessidades que, ao longo do tempo, ficaram por preencher. Na altura em que percebem que para o cônjuge o fim é uma certeza oscilam entre o pedido de uma segunda oportunidade e a suspeita de que ele(a) esteja a ocultar os verdadeiros motivos por detrás da ruptura ("De certeza que há outra pessoa...").
Esta postura revela pouca inteligência emocional e uma atitude passiva perante a vida e aquela que deveria ser a prioridade número 1 - os laços afectivos.
Embora não disponha de dados estatísticos recentes relativos à população portuguesa, posso afirmar que os motivos que estão por detrás dos pedidos de ajuda dos casais que me procuram não podem resumir-se às relações extraconjugais. Mais: a infidelidade nem sequer é o motivo mais frequentemente apontado para a crise que subjaz o pedido de ajuda.
Não sendo o adultério um comportamento que dignifique ninguém é positivo que cada vez mais sejamos capazes de olhar para os sinais de alarme na própria relação e tenhamos a coragem de fazer algo enquanto há tempo. Ninguém gosta de terminar uma relação e poucos são os que se sentem tranquilos com a ideia de acabar mais do que um casamento mas a verdade é que levamos uma vida mais honesta e de consciência tranquila quando tomamos as rédeas da própria vida e fugimos às malhas da traição. Mesmo que não houvesse mais nenhum motivo para evitar a infidelidade, há sempre a dureza de ter de conviver com um comportamento que magoa muito mais os filhos e o cônjuge do que o divórcio propriamente dito.