Quase todas as pessoas adultas já viveram um desgosto amoroso. Algumas até já passaram pela experiência mais do que uma vez. Ainda que tenhamos a tendência para fazer generalizações abusivas a partir de experiências pessoais, há muita verdade nos comentários de quem assume que o fim de uma relação não tem de ser dramático e que, mais cedo ou mais tarde, a dor passa e a disponibilidade para voltar a amar reaparece.
Quando nos ligamos a alguém e fazemos planos no sentido de envelhecer ao lado daquela pessoa, o fim da relação pode constituir um abalo fortíssimo, capaz de nos fazer duvidar da possibilidade de voltar a sorrir e/ou experimentar a felicidade plena. Como já tenho referido noutros textos, o divórcio é o segundo acontecimento mais stressante por que alguém pode passar ao longo do ciclo de vida, apenas suplantado pela morte do cônjuge ou de um filho. Ainda que não corresponda à perda física, um processo de separação também envolve um luto e este é variável de pessoa para pessoa. Surpreendentemente, há pessoas que acabam um casamento de décadas e não precisam de mais do que dois ou três meses para estar a fazer planos de uma vida a dois com outra pessoa. Na maior parte destes casos o luto aconteceu durante o casamento, isto é, a deterioração e o distanciamento foram de tal ordem que a oficialização da ruptura aconteceu muito tempo (às vezes anos) depois do divórcio emocional.
Para a generalidade das pessoas o luto prolonga-se durante algum tempo após a ruptura propriamente dita, mesmo quando há a certeza acerca da decisão. Desenganem-se por isso aqueles que pensam que o cônjuge que toma a iniciativa de acabar com o casamento não sofre. A pessoa que reconhece a irreversibilidade do distanciamento e a inexistência de afectos capazes de reconstruir a relação está tão vulnerável quanto a que é aparentemente surpreendida com um pedido de divórcio.
A vulnerabilidade e a tristeza associadas ao fracasso de uma relação são quase sempre avassaladoras e isso faz com que, para algumas pessoas, a separação seja o rastilho para o aparecimento de uma depressão reactiva. Neste caso, a tristeza, o desespero e a desorientação atingem níveis incapacitantes, impedindo, por exemplo, que a pessoa se sinta capaz de desempenhar as suas responsabilidades profissionais e parentais como antes. Os sintomas variam entre o cansaço extremo, as alterações no sono (insónia, hipersónia), irritabilidade constante, choro fácil, alterações no apetite ou o pessimismo generalizado.
É evidente que nem todas as pessoas que passam por uma separação conjugal precisam de recorrer à ajuda médica/ psicológica. Mas há muitos casos não diagnosticados que evoluem para depressões crónicas. O que há a fazer? Como discernir sobre a necessidade de pedir ajuda especializada? A resposta é simples: fale com o seu médico de família. Muitas vezes, é a partir da partilha honesta dos sentimentos junto deste profissional de saúde que se encontram respostas simples e ajustadas, que podem passar pelo encaminhamento para uma consulta de especialidade.