A maior parte dos adultos passam muito tempo no local de trabalho. Na maioria das vezes, é na companhia dos colegas e dos superiores hierárquicos que é passada a maior e mais enérgica parte do dia. De facto, saímos de casa quase sempre relativamente cedo, damos o nosso melhor no sentido de produzirmos na medida certa e assim contribuirmos para a nossa satisfação profissional e para a satisfação de quem nos contrata e é só no final do dia que temos oportunidade de “despir o uniforme de trabalho” e saborear o prazer dos laços afectivos mais próximos. Nalguns casos, o tempo que sobra é tão pouco que mal dá para satisfazer as necessidades da própria família, pelo que as oportunidades para socializar com outras pessoas escasseiam. Se é verdade que a maioria das pessoas valoriza na medida certa a importância dos amigos, também é certo que, entre compromissos familiares e profissionais, nem sempre nos sentimos satisfeitos com aquilo que damos e recebemos na relação com os amigos.
O tempo que passamos a trabalhar permite até que muitas vezes os nossos colegas de trabalho sejamos primeiros a tomar conhecimento de notícias importantes – tanto pela positiva, como pela negativa. Porque são eles que estão literalmente ao nosso lado quando recebemos um telefonema a avisar que um bebé acaba de nascer; porque são eles que nos vêem logo de manhã com cara feia porque acabámos de receber a notícia do adoecimento de um familiar. E no meio da azáfama diáriapodem passar-se meses sem que nos lembremos ou tenhamos o cuidado de partilhar com aqueles a quem chamamos de amigos os acontecimentos mais significativos por que vamos passando.
Como a amizade também é feita de proximidade, de investimento regrado e de apoio emocional real, as pessoas com quem trabalhamos podem tornar-se verdadeiros amigos. Ou, mesmo que não nos sintamos suficientemente próximos para conseguirmos chamá-los de amigos, podem tornar-se fontes de apoio importantes em momentos cruciais.
É isso que verifico em contexto clínico quando alguém me diz que, em função do processo de divórcio por que está a passar, tem sentido a solidariedade dos colegas de trabalho e reconhece naquelas pessoas a vontade genuína de “estar lá” e participar no que for preciso para ajudar a minimizar a dor; ou quando alguém diz que as pessoas com quem trabalha foram cruciais para manter a motivação e a esperança durante uma situação de doença.
Nem sempre é fácil reconhecermos nas pessoas com quem trabalhamos competências sociais que permitam que olhemos para elas também como pessoas afectivamente importantes, tal como nem sempre é fácil descomprimirmos e olharmos para os nossos colegas como pessoas divertidas e bem-humoradas. A ligação afectiva aos colegas de trabalho e aos superiores hierárquicos está obviamente condicionada pela sucessão de deveres, prazos a cumprir, decisões a tomar e outras fontes de stress inerentes ao quotidiano profissional.
Mas não é por acaso que de vez em quando ouvimos falar na excelência do ambiente de trabalho em empresas como a Microsoft ou a Google. Também não é por acaso que estas e outras empresas promovem com regularidade encontros entre os trabalhadores e as suas famílias em ambientes lúdicos. A verdade é que estas grandes organizações perceberam há muito tempo que, quanto mais satisfeitos estiverem os seus colaboradores, melhor será o seu desempenho.
Ainda que não trabalhemos numa grande organização, há competências que podemos e devemos treinar no sentido de promover laços saudáveis com as pessoas com quem trabalhamos. Quando damos o nosso melhor no sentido de garantir que os nossos colegas olhem para nós como pessoas honestas, confiáveis e disponíveis, aumenta a probabilidade de também olharmos para eles como fontes de suporte emocional. E esta segurança é ainda mais importante numa altura em que surgem dados de um estudo realizado por especialistas em comportamento organizacional que dão conta de que as pessoas que referem ter baixo apoio social no trabalho morrem mais cedo. Surpreendentemente ou não, segundo este estudo, a falta de apoio emocional no trabalho levou a um aumento de 140% de risco de morte em comparação com aqueles que relataram sentir apoio dos colegas de trabalho.