Partilho hoje a entrevista que concedi ao Expresso a propósito da reportagem sobre "Infidelidade Feminina".
1. Traímos mais hoje?
Embora existam alguns estudos relativos às estatísticas da infidelidade, não é fácil determinar com precisão se existe ou não um crescimento dos números. A verdade é que existem alguns factores que têm contribuído para que a infidelidade seja hoje mais facilmente descoberta do que há uns anos. O acesso à privacidade do cônjuge através dos meios tecnológicos tem facilitado a descoberta de relações extraconjugais que, se fossem vividas há alguns anos, manter-se-iam porventura encobertas durante mais tempo.
Por outro lado, e desde que seja viável responder a um questionário anonimamente, existe hoje maior abertura para a assunção do adultério. A experiência clínica mostra que a infidelidade existe hoje mais ou menos na mesma medida em que existia há 2 ou 3 décadas atrás. No meu caso, que trabalho com casais há mais de 10 anos, não é possível afirmar que existam hoje mais casos de infidelidade do que quando dei início à minha actividade clínica.
2. As mulheres traem mais hoje? Porquê?
Tal como referi antes, não é possível afirmar com precisão que tenha existido qualquer evolução neste sentido. É verdade que a emancipação profissional das mulheres favoreceu o alargamento da rede social, criando maior oportunidade para os relacionamentos extraconjugais. Ainda assim, os estudos mostram que a infidelidade feminina sempre existiu, ainda que possa ter sido, ao longo do tempo, encoberta de forma mais “eficaz” do que a infidelidade masculina.
3. É realmente um mito que os homens traem mais? O que dizem os estudos?
Existem algumas diferenças de género no que diz respeito à infidelidade, ainda que os números não correspondam às ideias comummente veiculadas. Alguns estudos apontam para a possibilidade de 45 a 55 por cento das mulheres casadas terem relacionamentos amorosos extraconjugais. Nos homens os números rondam os 50 a 60 por cento. Como se percebe, a diferença não é muito significativa, sendo que, mesmo em termos clínicos é possível verificar que “elas” encobrem melhor os affairs do que “eles”. Estas diferenças resultam da circunstância de a generalidade das mulheres serem muito mais atentas aos detalhes do que os homens. Também por isso, é como se as mulheres tivessem uma espécie de “sismógrafo”, que lhes permite perceber com mais facilidade as alterações de comportamento do cônjuge que possam levar à suspeita de infidelidade.
4. A monogamia é natural?
A generalidade das investigações na área do comportamento mostram que a percentagem de pessoas que ambiciona viver uma relação monogâmica satisfatória é esmagadora. Em suma, a maior parte de nós deseja viver neste formato, desde que se sinta feliz com aquela pessoa. Por outro lado, existem estudos que mostram que uma percentagem significativa das pessoas casadas (60 a 70 por cento; mais homens do que mulheres) trairiam se soubessem que não seriam apanhados. Apenas uma percentagem residual da população escolhe viver sob formatos como o swing ou o poliamor.