Viver com depressão e/ou conviver com alguém que está deprimido não é fácil. A doença mental do século XXI é incapacitante, acabando por condicionar (às vezes de forma severa) o rendimento profissional e académico, as relações afectivas e, claro, o amor-próprio. Por se tratar de uma área da saúde que ainda está envolta nalgum estigma, mas sobretudo por questões financeiras, algumas pessoas insistem em tentar dar resposta ao problema sem recorrer à intervenção clínica. Nalguns casos, mistura-se erradamente depressão com cansaço ou tristeza passageira e espera-se que o tempo traga melhores dias. A negação do problema até pode ser praticável durante muito tempo. Tal como há pessoas que vão perdendo os dentes porque adiam a ida ao dentista, habituando-se a conviver com a dor física, há muitas pessoas que sobrevivem convencidas de que o pedido de ajuda especializada é um desperdício de tempo e dinheiro. Ao longo de anos vêem a sua vida deteriorar-se, sentem-se progressivamente mais isoladas e lamentam o "azar" que predomina nas suas vidas. Ignoram que é precisamente a sua resignação que está a afundá-las para uma vida que está muito aquém daquilo a que deveriam ter direito.
Nalguns casos o problema até é assumido mas a pessoa que está deprimida procura "remediar" o problema com a ajuda de livros mais ou menos fiáveis que proclamam soluções para dar a volta ao pessimismo. Tal como as mezinhas caseiras de pouco ou nada servem quando existe um problema dentário sério, é pouco provável que um livro de auto-ajuda possa resolver um transtorno depressivo.
Aqueles que assumem que a depressão é uma doença e recorrem à ajuda clínica fazem-no normalmente através do médico de família e procuram uma solução rápida e eficaz. É legítimo que assim seja. Tal como alguém que sente dores de dentes precisa do alívio imediato, alguém cuja vida está dominada por uma depressão precisa de ver a luz ao fundo do túnel. Mas o alívio dos sintomas não corresponde à resolução dos problemas - nem no caso das dores de dentes, nem no caso de depressão. É por isso que há tantas pessoas que se queixam de ter recorrido à medicação antidepressiva e, depois de algum tempo, terem sofrido uma recaída. A medicação é quase sempre fundamental no tratamento da depressão mas as mudanças sólidas dependem, na maior parte dos casos, da intervenção psicológica. E ainda que a maior parte dos serviços de Psicoterapia sejam privados e envolvam um esforço financeiro do paciente, este é um investimento do qual pode depender a completa recuperação.
Ninguém merece viver a "meio-gás", como se estivesse condenado. Todos sabemos que a vida é curta e que deve ser aproveitada ao máximo, pelo que nos compete fazer o que estiver ao nosso alcance para que nos sintamos emocionalmente capazes de concretizar os nossos sonhos.
Na intervenção psicológica, tal como num tratamento dentário sério, as mudanças desejadas podem levar algum tempo. Nalguns casos, pode até ser necessário um acompanhamento prolongado. Mas a segurança de quem faz esta escolha é progressivamente maior, as mudanças são mais sólidas e a probabilidade de voltar a cair nas malhas do desespero é muito menor.
Um psicólogo experiente não pode prometer milagres, nem sequer mudanças rápidas. Mas pode construir com o paciente uma aliança terapêutica que lhes permita olhar para as dificuldades com a profundidade necessária para que as mudanças ocorram.