Numa altura em que o bullying e o assédio moral no trabalho surgem recorrentemente nas notícias e nas conversas informais, é relativamente fácil compreender o impacto negativo da rejeição social. Ainda assim, talvez não estejamos totalmente sensibilizados para os danos que esta forma de ostracismo provoca. Qualquer adulto é capaz de perceber que é triste para uma criança ter de almoçar sozinha no refeitório da escola porque nenhum dos coleguinhas quer sentar-se ao seu lado. Mas quantos professores/ funcionários da escola dar-se-ão ao trabalho de intervir junto dos alunos, gastando uma parte do seu tempo para gerir uma situação de rejeição social como esta? Quantos optarão por “fechar os olhos” ao problema? Equantos de nós vencerão a inércia e interferirão em situações em que um colega de trabalho esteja a ser posto de parte? Mais: até que ponto estamos livres de cometer o “pecado” de ostracizar o próprio cônjuge ou outro membro da família, condenando-o ao silêncio e ao desprezo temporários? Saberemos avaliar o sofrimento daqueles a quem rejeitamos, mesmo que seja “apenas” por umas horas?
A experiência de nos sentirmos rejeitados é extremamente dolorosa e pode ter efeitos perigosos no bem-estar e na saúde mental dos respectivos alvos. Nós precisamos de sentir que pertencemos a determinados grupos – sentimo-nos infinitamente mais seguros pelo simples facto de existir um sentimento de pertença em relação à família, aos amigos, aos vizinhos, às pessoas da nossa cidade ou aldeia. Tal como acontece numa altura precoce da nossa vida, em que somos alimentados e protegidos pelos nossos pais, ao longo da vida temos necessidade de nos sentirmos amparados por diversos grupos sociais.
Quando uma pessoa escolhe vedar a outra à rejeição social, está a puni-la. Se nos lembrarmos do que acontece nalgumas prisões, em que aqueles que se “portam mal”são castigados com períodos passados em isolamento total (solitária) 23 horas por dia, conseguimos perceber a força desta punição. Neste caso extremo há situações de ruptura emocional, em que a pessoa acaba por desenvolver episódios psicóticos. A privação do contacto com outras pessoas é potencialmente devastadora para a saúde mental.
Quando, na sequência de uma discussão ou de um desentendimento com o cônjuge, um amigo ou um colega de trabalho, uma pessoa exclui a outra castigando-a com o silêncio e o isolamento, levando-a a sentir-se rejeitada de um grupo a que antes pertencia, provoca um sofrimento terrível, comparável ao de alguém que é vítima de bullying (físico ou emocional). O resultado é penoso: níveis muito elevados de ansiedade, depressão, diminuição da auto-estima, aumento da tensão arterial, alterações de apetite, pensamentos suicidas…
A rejeição social pode ser considerada uma ferramenta eficaz, na medida em que atinge com certeza o alvo. Mas será uma resposta ajustada aos comportamentos que nos magoam/ desagradam? A verdade é queninguém merece esta forma de castigo.
Ultrapassar os danos provocados por esta forma de violência pode implicar o trabalho psicoterapêutico, no sentido de permitir que a vítima compreenda que a rejeição social é um comportamento irracional que pouco ou nada tem a ver com o erro que aquela pessoa possa ter cometido. Os sentimentos de culpa, que agudizam os estados depressivos, não fazem sentido e devem ser desconstruídos em terapia.