Quantas vezes deu por si a elaborar mentalmente uma resposta para aquilo que o seu interlocutor está a dizer? Quantas vezes sentiu uma vontade imensa de o interromper para partilhar a sua opinião que é, aos seus olhos, muito mais importante que a dele? E, se o fez e o seu interlocutor não se calou, terá o leitor elevado o tom de voz numa tentativa de impor o seu discurso? Que atire a primeira pedra quem nunca agiu desta forma. Ouvir atenta e empaticamente nem sempre é fácil e às vezes somos tomados por níveis de ansiedade que nos fazem desrespeitar de forma mais ou menos grosseira o nosso interlocutor. Se este erro for recorrente nas relações afectivas, é natural que a intimidade emocional decresça e que a incompreensão aumente.
Sermos escutados vai muito além de sentirmo-nos respeitados. Quando alguém se mostra disponível para nos ouvir, para nos compreender, está a mostrar-se interessado em conhecer-nos, em aceder àquilo que pensamos e sentimos, providenciando-nos um conforto incalculável. Infelizmente, algumas pessoas nunca se sentem realmente ouvidas e por isso, mesmo que passem a vida rodeadas de gente, podem sentir-se profundamente sós, já que ninguém sabe exactamente como se sentem, como vivem.
Quando sabemos que há alguém que está disponível para nos ouvir, sentimo-nos mais livres. Sabemos que podemos falar sobre o que quisermos, sobre o que nos vai na alma. Podemos sentar-nos, ficar de pé, gritar, chorar, atirar-nos para o chão ou dançar de alegria sem que nos sintamos julgados. Em suma, sabemos que há alguém que está “lá” para nós.
E o que é estar “lá”? Para algumas pessoas com quem me deparo em sede de terapia, este amparo resulta da partilha de factos, mais do que emoções, via chat, MSN ou Facebook. Mas este conforto é meramente ilusório já que as “conversas” que mantemos através do computador não substituem, nem de longe nem de perto, a proximidade afectiva que resulta de uma conversa presencial. Sabia que na comunicação escrita se perde 93% da comunicação? A expressão facial tem muito mais importância do que qualquer outro elemento de uma conversa (55%), seguida do tom de voz (38%) e muito longe daquilo que é dito (7%).
Só quando conversamos olhos nos olhos é que conseguimos sintonizar-nos com outras pessoas, sentindo-nos seguros, estáveis. Mas isso implica que, quem ouve, não mostre desinteresse ou tédio. Ouço muitas queixas em sede de terapia de casal relacionadas com o ar de enfado do cônjuge. De facto, algumas pessoas ligam o piloto-automático, transmitindo ao outro a mensagem de que estão desejosas que aquela conversa acabe. Escusado será dizer que isto não é estar “lá”.
Mostrarmo-nos disponíveis implica estarmos atentos àquilo que o outro transmite e sermos sensíveis a essas emoções. Às vezes nem é preciso dizer nada. Quem quer desabafar pode precisar só disso mesmo: de ser ouvido, sem ser confrontado com sugestões. Mas não há nada como perguntar “O que é que eu posso fazer?” ou “Do que é que precisas?” para que nos sintamos seguros acerca da nossa ajuda.
Ouvir empaticamente implica sobretudo a generosidade de nos descentrarmos dos nossos problemas e atentarmos às preocupações do outro mostrando-lhe o nosso respeito, interesse e disponibilidade.