Ouço frequentemente em sede de terapia a expressão “Sou uma pessoa muito impulsiva”, quase sempre num tom queixoso. A generalidade das pessoas é capaz de reconhecer que os comportamentos impulsivos acarretam mais riscos, menor discernimento e maior probabilidade de arrependimento. Algumas pessoas assumem-se como impulsivas usando um tom resignado – “Sou assim e já não mudo”, mas a verdade é que podemos e devemos controlar a nossa impulsividade, sob pena de colocarmos em risco as nossas relações afectivas e profissionais.
O que caracteriza a impulsividade? - A tendência para escolher a recompensa imediata em detrimento de um bem maior. Quando uma criança escolhe receber um euro hoje em vez de esperar até ao dia seguinte e, nessa altura, receber 5 euros, está a ser impulsiva. Compete-nos a nós, adultos, educá-la no sentido de saber adiar a gratificação. O problema é que muitos adultos não servirão propriamente como modelos de comportamento, já que, em circunstâncias semelhantes, comportar-se-ão também eles de forma impulsiva. Ainda no domínio do dinheiro, quando um adulto escolhe pagar 1000 euros por um electrodoméstico, podendo trazê-lo para casa imediatamente, em detrimento da possibilidade de fazer a encomenda através da Internet, pagando pelo mesmo artigo apenas 700 euros, mas tendo de aguardar duas semanas pela entrega, está a mostrar-se incapaz de controlar a sua impulsividade.
Infelizmente, não é apenas em relação ao dinheiro e às compras que adoptamos comportamentos impulsivos. Em termos profissionais, a impulsividade pode levar-nos a fazer escolhas que nos impedem de crescer, de evoluir na carreira. Conheço pessoas criativas e até brilhantes nas respectivas áreas profissionais cujos objectivos vão sendo sistematicamente adiados em função de recompensas pequenas mas imediatas. Este é, de resto um dos factores subjacentes ao adiamento da conclusão de projectos de doutoramento ou da edição de livros. Trabalhar “no duro” e na sombra, adiando a grande recompensa, não é um desafio fácil para todas as pessoas. Para as pessoas mais impulsivas é relativamente fácil procrastinar, investir em projectos que são imediatamente valorizados e/ou remunerados, mesmo que isso implique desvantagens a longo prazo.
Nas relações afectivas a impulsividade é particularmente evidente quando cedemos à tentação de dizer, a quente, o que nos vem à cabeça em vez de esperarmos pelos benefícios do “arrefecimento”. Saber respeitar o ritmo do outro é essencial a qualquer relação afectiva, particularmente numa relação conjugal. Quando uma pessoa escolhe exigir que as suas necessidades sejam satisfeitas de forma imediata, desrespeitando porventura o que está por detrás do comportamento do cônjuge, coloca a sua relação em risco.
Em qualquer um destes contextos, é frequente existirem sentimentos de culpa associados aos comportamentos impulsivos, mas estes podem não ser suficientes para que haja uma mudança estrutural. Mais: os comportamentos aditivos estão directamente associados a estes ciclos viciosos. As pessoas obesas que enveredam por sucessivas dietas, interrompendo-as sistematicamente porque são incapazes de fugir das tentações, sofrem muitíssimo com estes padrões comportamentais. Ainda que seja difícil acreditar, as pessoas que coleccionam relações amorosas (monogamia em série), procuram muitas vezes uma relação estável e duradoura, mas, na prática, o seu interesse pela pessoa amada vai desaparecendo à medida que desaparece a activação fisiológica associada à paixão.