A pergunta pode parecer ridícula, especialmente se for colocada a um terapeuta conjugal, já que cada profissional defende a sua área de especialização. Mas como cada indivíduo é (ou deve ser) o primeiro cuidador da sua saúde (física e emocional), todas as perguntas têm cabimento e todas as dúvidas devem ser esclarecidas antes de se fazer uma escolha. Afinal, o que têm a ganhar com esta ajuda os casais que lutam há meses ou anos por reconstruir a sua relação? O que é que um profissional pode fazer para que o tumulto dê lugar à harmonia, para que as guerras dêem lugar a demonstrações de amor? E se já não houver amor?
Um dos princípios do amor romântico dita que “só é preciso uma pessoa para acabar com um casamento, mas são precisas duas para fazê-lo dar certo”. Infelizmente, nem todos os casais pedem ajuda a tempo de uma reconstrução. É verdade que a maior parte dos pedidos de ajuda em terapia conjugal estão associados a níveis elevados de desespero e de desorientação e que muitos casais consideram que esta é a derradeira tentativa, mas isso não significa que tenham deixado de se amar. Significa, isso sim, que estão a sofrer e que não estão a ser capazes de gerir a situação familiar. Nalguns casos, a terapia conjugal não funciona porque os membros do casal não estão fortemente empenhados em salvar o casamento, não estão dispostos a fazer a sua parte para trabalhar a relação. Limitam-se a culpar-se mutuamente, incapazes de ver além das mágoas acumuladas. Noutros casos, um dos membros do casal já fez o corte emocional, já desistiu de lutar pela relação, mas procura esta ajuda porque se sente incapaz de assumir a decisão e dar os passos no sentido da ruptura física.
Então, em que altura deve ser feito o pedido de ajuda? A partir do momento em que os membros do casal se sentem presos a padrões comportamentais negativos dos quais não conseguem sair sozinhos, importa considerar a hipótese de recorrer à terapia conjugal.
Cerca de dois terços dos casais que procuram esta ajuda terapêutica mostram melhorias clínicas significativas. Alguns precisam apenas de algumas sessões para ultrapassar as dificuldades e para voltarem a sentir-se capazes de enfrentar sozinhos os seus problemas; outros precisam de mais tempo (e de um plano terapêutico com muito mais consultas) para que voltem a sentir-se seguros.
Mas o que é feito em sede de terapia conjugal? Não podendo um psicólogo fazer com que uma pessoa volte a apaixonar-se por outra, quais são as suas competências? Como pode ajudar? Para além da promoção de competências relacionadas com a comunicação, e da avaliação rigorosa da história de vida de cada um dos membros do casal, um terapeuta conjugal procura trabalhar a capacidade de cada pessoa para compreender as reacções emocionais do cônjuge. Quanto melhor conhecermos as feridas emocionais da pessoa que escolhemos para viver ao nosso lado e quanto mais nos esforçarmos por perceber a forma como ele(a) se sente em função dos nossos comportamentos, maior é a probabilidade de o casamento dar certo.
Nenhum processo de terapia conjugal é baseado na tentativa de mudar a personalidade de um dos membros do casal. Mais: as pessoas não podem mudar a sua essência básica, mesmo que se esforcem, pelo que é inútil desejar/ exigir que o cônjuge o faça. Claro que algumas mudanças são viáveis e muitas vezes imprescindíveis, mas trata-se de mudanças comportamentais, não nucleares.
“Aceitar o outro tal como ele é” pode parecer um chavão, mas é um dos princípios fundamentais de uma relação amorosa de sucesso. Não podemos exigir que os defeitos sejam excluídos do “pacote”.
Todos os casais discutem, todos os casais trocam acusações. Mas a terapia pode ajudá-los a recuperar destas discussões mais rapidamente, a reduzir a frequência destas discussões e a minimizar a raiva e a mágoa que tantas vezes acompanham estas discussões. Pelo contrário, quando as dificuldades se eternizam e os membros do casal recusam-se a pedir ajuda, torna-se cada vez mais difícil recuperar. A raiva transforma-se no sentimento mais exteriorizado, as acusações e os comportamentos defensivos tornam-se cada vez mais rotineiros e os membros do casal sentem-se progressivamente mais feridos e frustrados.
A resolução dos problemas conjugais pode passar pelo reconhecimento de que cada discussão implica “três lados da mesma história” – a dele, a dela e a de alguém que está emocionalmente distante e que é capaz de aceder à verdade parcial de cada versão.