Felizmente, as perturbações de humor estão cada vez mais na ordem do dia. Felizmente? Sim, porque isso implica que se pergunte mais, que se estude mais, e que se contribua para a ignorância e o estigma que circundam este tipo de doenças. Infelizmente, o facto de os transtornos como a depressão ou a perturbação bipolar serem alvo de reportagens sérias e cuidadas não é suficiente para que os doentes não se sintam olhados de lado, discriminados, diminuídos.
Estas são doenças comuns – se o leitor nunca sofreu de uma perturbação de humor, é quase certo que conheça alguém que esteja a viver ou que já tenha vivido esta experiência (um familiar, um amigo ou um colega de trabalho). Qualquer leitor deste blogue sabe que é difícil falar abertamente sobre o problema. De um modo geral, a desinformação faz com que, quer os doentes, quer aqueles que o rodeiam, se sintam pouco à vontade para o fazer – perante a possibilidade de se “meter a pata na poça”, preferem ignorar o assunto.
Ao mesmo tempo, nós, técnicos de Saúde Mental, esforçamo-nos por informar, por contribuir para desmistificação destas perturbações, na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, possamos todos falar delas tal como falamos de outras perturbações físicas.
Há uma tremenda necessidade de tornar claro que estes transtornos não têm nada a ver com a força de cada um, nem o seu tratamento depende apenas da vontade do doente. Trata-se de doenças do cérebro, que nalguns casos acarretam consequências graves para o doente, dividem famílias e podem levar ao suicídio.
Em relação à perturbação bipolar, por exemplo, sabe-se hoje que os pacientes apresentam pequenas alterações em regiões chave do cérebro que são responsáveis pela regulação das emoções, mas ainda não se sabe porquê. Num futuro que se espera próximo, talvez seja possível realizar despistes fisiológicos que permitam o diagnóstico destas perturbações, como acontece em relação a tantas outras doenças, permitindo que o tratamento seja ainda mais célere e eficaz.