Nos últimos anos têm proliferado notícias sobre taxas de desemprego, despedimentos colectivos e crise financeira. Infelizmente, as parangonas dos jornais e as reportagens de televisão sobre estes temas escondem rostos de famílias que lutam arduamente para fazer face a um obstáculo, a um acidente de percurso, cujo impacto ultrapassa, em larga medida, os constrangimentos financeiros. Por exemplo, um estudo recente mostra que as pessoas que ficaram sem emprego há pouco tempo estão quatro vezes mais vulneráveis a sofrer de depressão do que a população em geral.
Ficar sem emprego tem um impacto brutal no bem-estar de qualquer pessoa e isso não tem apenas a ver com o facto de ter de se fazer uma pausa na persecução de alguns sonhos, tão-pouco tem a ver com o facto de a família ser forçada a “apertar o cinto”. A verdade é que a perda do posto de trabalho implica quase sempre uma quebra de confiança nas próprias capacidades, bem como a diminuição dos contactos sociais. O isolamento e a falta de rotinas associadas ao desempenho de uma profissão são angustiantes e, para algumas pessoas, fonte de devastação, apatia e depressão.
Paralelamente, a crise financeira instalada tem sido uma fonte de ansiedade para muitos trabalhadores que, por não se sentirem seguros no seu posto de trabalho, vivem sistematicamente nervosos. Esta ansiedade antecipatória tem uma base muito real – ora porque as chefias transmitem a ideia clara de que “as coisas não estão bem”, ora porque há ameaças de despedimentos. À medida que surgem sinais evidentes de crise – layoffs, despedimento de colegas, atrasos no ordenado – é natural que cresça também o stress e que se torne progressivamente mais difícil manter a harmonia familiar.
Entre o início dos sinais de crise e a situação de desemprego propriamente dita podem decorrer vários meses, marcados pelo desgaste e pela preocupação exacerbada. Esta consumição de energia pode levar ao desespero e à sensação de que o desemprego é um problema inultrapassável. De resto, um dos sinais de depressão é exactamente o pessimismo – “nada na minha vida corre bem, tudo que eu faço está errado, para mim tudo é mais difícil, isto só poderia ter acontecido comigo, ninguém gosta de mim…”.
Como se tudo isto não fosse suficiente, há ainda muitos trabalhadores expostos a situações de assédio moral – em que a entidade empregadora, normalmente porque não quer cumprir as suas obrigações financeiras associadas ao despedimento do trabalhador, o humilha sistematicamente, tentando que saia “pelo próprio pé”, isto é, sem ver os seus direitos garantidos. Infelizmente, a crise financeira tem contribuído para que muitos empresários façam uso desta estratégia, de forma cada vez mais camuflada.
Nestes processos, é usual que a ansiedade do trabalhador esteja elevada durante largos meses (às vezes anos). Resultado: auto-estima fragilizada, tensões familiares e, em muitos casos, depressão. Estes casos são mais frequentes em pessoas entre os 25 e os 50 anos, com filhos a seu cargo e que vivam em zonas urbanas.