Os números associados à violência doméstica não enganam: há milhares de mulheres vítimas deste tipo de crime e, para muitas, os abusos repetidos só terminam com a morte. Por mais escandaloso que seja, este é um problema real, vivido quase sempre em silêncio. O embaraço, a vergonha e o medo estão muitas vezes por trás destes números, já que só uma pequena parte destas mulheres é capaz de pedir ajuda. Felizmente, o tema é cada vez mais alvo da atenção dos meios de comunicação e as campanhas de sensibilização estão por toda a parte.
Mas este é um problema que também afecta muitos homens – em Portugal e no resto do mundo -, contudo, a abordagem, nestes casos, é claramente diferente. Resignámo-nos ao facto de o sexo masculino ser fisicamente mais forte e desvalorizámos durante muito tempo os homens vítimas de violência doméstica.
Os números associados a esta variante da violência doméstica são menos claros, já que a vergonha suplanta quase sempre a vontade de pedir ajuda e/ou de partilhar o problema com terceiros. Os diversos estudos sobre a matéria baseiam-se sobretudo em estimativas mas, ainda assim, sabe-se que, ao contrário do que se poderia pensar, não são poucos os homens que sofrem deste problema.
Importa frisar que a violência doméstica não inclui “apenas” a violência física, pelo que, não raras vezes, a forma de violência a que estas pessoas são sujeitas é, sobretudo, psicológica. Mas os estalos, murros e pontapés também podem fazer parte desta realidade.
Por que não se defendem, fazendo uso da sua dominância física? Em grande medida porque essa é uma das armas usadas por quem os agride: “Se me tocares, faço queixa de ti.”. O “jogo” psicológico inclui humilhações, ameaças e a “certeza” de que ninguém acreditará num homem que se diz agredido por uma mulher.
Por que não abandonam a relação / o casamento? Se é verdade que muitas mulheres vítimas de violência não são capazes de pôr termo à relação porque estão financeiramente dependentes dos maridos, também é verdade que muitos homens temem sofrer as consequências de uma possível ruptura. A perda da guarda dos filhos, associada a outras ameaças, está muitas vezes na origem do medo da separação.
Vivido no silêncio do lar, este é um problema cujas repercussões podem estender-se por muito tempo. O homem, neste caso, sente-se progressivamente desvalorizado, humilhado e vulnerável. A probabilidade de vir a sofrer de depressão é três vezes superior à média.
Este é um problema que está longe de afectar classes específicas da população. Pelo contrário, é transversal a todas as camadas sociais – tanto afecta homens pobres e pouco escolarizados, como atinge homens ricos e formados.