A morte continua a ser um dos grandes tabus do nosso tempo. Recusamo-nos a falar dela e contornamos quaisquer pensamentos que lhe possam estar associados. Não raras vezes, até nos sentimos incomodados por termos que explicar o “conceito” às crianças que, inocentemente, nos confrontam com questões polémicas.
A tomada de consciência da mortalidade faz parte do nosso processo de amadurecimento: a entrada na idade adulta implica, na generalidade dos casos, a percepção da finitude da vida. É dessa tomada de consciência que resulta o facto de passarmos a correr menos riscos. Os adolescentes, por exemplo, adoptam mais comportamentos de risco – seja através de manobras perigosas de mota, ou através de relações sexuais não protegidas, por exemplo – precisamente porque “acreditam” que o pior só acontece aos outros e assumem, até certo ponto, a ideia da imortalidade.
Mas se o confronto com a morte é normal, não é expectável que esta seja uma questão sistematicamente presente nos nossos pensamentos. Pelo contrário, se uma pessoa pensa frequentemente na morte, é natural que se sinta ansiosa. Claro que todas as pessoas já experimentaram momentos de ansiedade provocados por flashes acerca deste tema – às vezes, esses pensamentos têm origem numa notícia que relata o desaparecimento repentino de uma pessoa jovem, ou na perda de uma pessoa próxima; noutros casos, podem surgir sem aviso prévio. Trata-se de situações pontuais, passageiras, que não condicionam o nosso bem-estar.
A partir do momento em que os pensamentos de alguém são regularmente dominados por este tema, é provável que algo não esteja bem na vida dessa pessoa: há uma forte probabilidade de estarmos perante um quadro depressivo. Dentre os sintomas mais frequentes em doentes depressivos, os pensamentos sobre a morte e sobre o suicídio aparecem no topo da lista, seguidos da redução da auto-estima e das perturbações do sono. Isto não significa que haja “vontade” de cometer suicídio, mas estes pensamentos são normalmente acompanhados de grande desconforto e desespero.
Num passeio pela praia, a Teresa aproximou-se de uma falésia. “Surgiram automaticamente pensamentos estranhos… parecia que me via a saltar lá para baixo e afastei-me logo da beira da falésia. Já não quis ficar ali”. A Teresa não teve vontade de saltar, mas assustou-se com os pensamentos negativos.
À medida que o quadro depressivo se agudiza, podem intensificar-se os sentimentos de desespero e desesperança, pelo que algumas pessoas pensam mesmo no suicídio como uma forma de acabar com o sofrimento.
Partilhar estes pensamentos com o médico / psicólogo pode parecer difícil ou constrangedor, mas é o melhor caminho para pôr termo ao isolamento a que a depressão conduz. Quanto mais precoce for a intervenção, mais célere é a recuperação.