Ele - Eu conheci uma mulher ontem à noite.
Ela – Conheceste uma mulher ontem à noite…
Ele – No Bar do Joe. Não aconteceu nada. Ela era bonita. Eu reparei. E conversámos.
Ela – Tu conheceste uma mulher ontem à noite!
Ele – Sim.
Ela – Então, devo preocupar-me ou algo do género?
Ele – Deves preocupar-te com o facto de eu ter conhecido uma mulher? Não. Deves preocupar-te porque o facto de eu ter “flirtado” com aquela mulher foi o ponto alto da minha semana? Sim, deverias preocupar-te ou algo do género. *
(Quase) Todos os dias conhecemos pessoas bonitas, interessantes. Podemos até considerar algumas delas super-atraentes e, por isso, determo-nos um pouco a admirá-las. Mas isso não significa que sejam uma ameaça à nossa relação conjugal.
Mas se a possibilidade de conhecer alguém que nos cative é precisamente o primeiro passo para o início de uma relação amorosa, o que é que “protege” os casais de enveredarem por relações extraconjugais? Que níveis de satisfação conjugal são necessários para evitar que caiamos em tentação? A partir de que ponto é que uma amizade pode tornar-se perigosa?
Não creio que possamos propriamente falar em amizades perigosas. Nem tão pouco me parece razoável que o amor seja compatível com algum tipo de prospecção de mercado. Ou seja, os casais felizes não andam por aí a avaliar a cotação do seu cônjuge em comparação com outros potenciais candidatos.
Os dados sobre a infidelidade são até bastante claros a este respeito: as pessoas traídas são frequentemente surpreendidas com o facto de a terceira pessoa não corresponder ao perfil “esperado”. Não raras vezes quem trai fá-lo com uma pessoa mais velha, mais gorda, ou aparentemente menos interessante do que o cônjuge. Mas o mito de que a terceira pessoa é mais bonita, mais elegante ou mais inteligente do que o cônjuge já foi explorado aqui.
Não é, portanto, com questões de “cotação” que nos devemos preocupar. Nem sequer com o facto de, durante boa parte do dia, não podermos controlar aquilo que o nosso cônjuge faz (ou com quem o faz).
Há algo nas relações emocionalmente inteligentes que protege os cônjuges deste tipo de ansiedade. Não são displicentes em relação ao seu casamento (ou namoro), nem estarão livres de sentir algum ciúme. Mas, na generalidade do tempo, sentem-se seguros.
Quando há lacunas e, por isso, a relação deixa de ser tão emocionalmente inteligente, o facto de um dos cônjuges conhecer alguém interessante passa a ser significativo. Por muito que custe a acreditar, os motivos que conduzem um casal à ruptura e ao divórcio são exactamente os mesmos que o podem levar a uma situação de infidelidade.
E, ao contrário do que algumas revistas insistem em propagandear, não há “estratégias para apimentar a relação sexual” ou “segredos para levar o companheiro ao êxtase” que salvem uma relação emocionalmente instável.
Parafraseando o Professor John Gottman, especialista em casamentos felizes, há sete princípios comuns a estes casais:
- Conhecer profundamente a pessoa que está ao nosso lado – os detalhes que estruturam a sua personalidade, aquilo que a marcou, o que é importante para ela – e actuar em conformidade com esse conhecimento.
- Alimentar de modo sistemático a expressão dos afectos e de admiração mútua.
- Enfrentar juntos as dificuldades.
- Deixar-se influenciar - há que permitir que a opinião do nosso cônjuge influencie as nossas decisões.
- Enfrentar imediatamente os problemas, impedindo-os de se transformarem em questões que se eternizam. É preferível encontrar consensos do que tentar mudar a personalidade do cônjuge.
- Não criticar destrutivamente. A linha que separa a crítica do desprezo e do sarcasmo nem sempre é fácil de definir.
- Construir um projecto comum e aplicá-lo à relação em vez de “curtir” apenas um dia de cada vez.
* Tradução (muito) livre de uma cena de “Anatomia de Grey”