Há uma inevitabilidade associada a qualquer processo de emagrecimento: aquilo que comemos (ou aquilo que deixamos de comer) não é suficiente para produzir grandes oscilações de peso. É preciso introduzir mudanças significativas, nomeadamente através da prática de exercício físico. Ora, também não é expectável que a mudança de imagem corporal, através da perda de peso, seja suficiente para produzir alterações em termos da nossa auto-estima. É preciso bastante mais.
Como esta é uma questão circular, o aumento de peso (gradual ou repentino) influencia o nosso auto-conceito, a imagem que temos de nós mesmos, o que, em certos casos, pode fazer com que a desmotivação se alastre a outras áreas da vida.
Não raras vezes, o aumento de peso produz alterações no desejo sexual e na satisfação conjugal. Os constrangimentos que resultam da falta de auto-confiança levam a que a própria pessoa estabeleça comparações sistemáticas com os outros – que, aos seus olhos, são quase sempre mais bonitos, mais interessantes. Também existem comparações em relação ao passado – olha-se com mágoa para as fotografias de “há 10 quilos atrás”, alimentando pensamentos auto-destrutivos.
Então, experimentam-se dietas aparentemente promissoras, fixam-se horários para o ginásio e entra-se numa luta mais ou menos desenfreada no sentido de vencer a batalha. E se os quilos a mais teimarem em não desaparecer – no caso das mulheres este processo é ainda mais moroso – a frustração instala-se e a desmotivação regressa.
A proliferação de blogues que descrevem processo de emagrecimento denuncia o estado das coisas. De um modo geral, estes registos são positivos, já que, além de mostrarem que os avanços e recuos são comuns a muitas pessoas, potenciam a auto-disciplina.
Mas é preciso ter cuidado. Esta pode ser uma luta importante para a elevação da auto-estima, mas algo vai mal se se transformar n’A luta.
Os limites que fixam aquilo que é normal em termos de peso corporal estão amplamente difundidos pela Organização Mundial de Saúde e suas ramificações. Mas poucos terão consciência daquilo que é ou não é normal no que se refere ao comportamento alimentar.
Ainda que perturbações como a anorexia ou a bulimia estejam cada vez mais na ordem do dia, a verdade é que em muitas famílias ainda se acredita que “essas coisas” só acontecem aos outros. E ainda há os perigos associados à ortorexia, ignorados de um modo geral.
Nota: A Ortorexia Nervosa é um distúrbio alimentar pouco conhecido, que se caracteriza por uma preocupação exacerbada com o tipo de alimento ingerido. Os portadores da doença acham que apenas vegetais e cereais fazem bem ao organismo. Já carnes e enlatados, são evitados na alimentação. Apesar de a alimentação natural ter os seus benefícios comprovados, os ortoréxicos são extremamente rígidos nos seus hábitos alimentares, passam o dia preocupados com isso e não medem esforços para adquirir esses alimentos: percorrem grandes distâncias e pagam valores altos. Além disso, recusam-se a comer em casa de parentes e amigos por desconhecerem o que será posto à mesa. Quando não conseguem alimentar-se de produtos naturais, sentem culpa e tornam-se ainda mais radicais em relação à sua dieta. Este distúrbio alimentar causa graves prejuízos à saúde, caso o ortoréxico não substitua os alimentos que deixa de consumir por outros que lhe ofereçam o mesmo complemento nutricional. Entre os problemas causados, estão quadros de anemia, carência vitamínica e problemas de relacionamento social, já que os ortoréxicos acabam por se afastar das pessoas que não se alimentam como eles.
Fonte: Redação Saúde em Movimento