A gestão financeira é, cada vez mais, um desafio com que todos os pais se defrontam. Independentemente do seu próprio poder de compra, mais cedo ou mais tarde, todos os progenitores são confrontados com a necessidade de ensinar aos filhos a valorização do dinheiro.
Os mais abastados esforçam-se por proporcionar às suas crianças os melhores colégios, as melhores roupas, os melhores brinquedos. Alguns procuram mesmo que os seus filhos possam ter acesso àquilo a que eles próprios jamais tiveram. À medida que as crianças deixam de ser crianças e que a adolescência se traduz numa multiplicidade de necessidades e estímulos, pode ser difícil gerir os dois pratos da balança, isto é, aquilo que os pais podem dar versus aquilo que devem dar.
Os mais remediados fazem, de um modo geral, esforços gigantescos para que os filhos possam aceder à generalidade dos bens e serviços que contribuam para melhorar a sua educação e bem-estar. E se nos primeiros anos até é relativamente fácil “apertar o cinto” e reduzir as despesas pessoais para poder comprar um brinquedo mais caro ou uma peça de roupa “de marca”, à medida que o tempo passa o desafio cresce e os recursos financeiros parecem ser cada vez mais escassos. Neste caso, a balança oscila entre aquilo que os pais podem dar e aquilo que gostariam de dar.
Os primeiros temem que os filhos, privilegiados, não adquiram uma verdadeira consciência das dificuldades associadas a ganhar e administrar o dinheiro. Mais: temem que este desfasamento em relação à realidade os possa prejudicar seriamente se um dia tiverem que viver com muito menos dinheiro do que agora.
Os segundos assustam-se sobretudo com a possibilidade de não conseguirem que os filhos se sintam perfeitamente integrados e aceites numa sociedade de consumo. Ao mesmo tempo, reconhecem que o dinheiro não cresce nas árvores e que os filhos devem tomar consciência disso mesmo desde cedo.
Se havia dúvidas quanto à importância da aplicação de regras nesta matéria, hoje poucos duvidarão de que é fundamental que existam balizas, como a definição clara dos valores que os pais dão aos filhos – através de uma mesada ou de uma semanada.
A aquisição de competências relacionadas com a gestão financeira depende da forma como os educadores se comportam. Assim, é importante que os pais:
- Definam, em conjunto com os filhos, as despesas que passarão a ser pagas com o dinheiro da mesada (ou semanada) – carregamentos de telemóvel, idas ao cinema, compra de roupa…;
- Estabeleçam uma quantia que permita que o adolescente faça frente às suas despesas;
- Definam um dia para o pagamento da mesada e o cumpram a cada mês;
- Estejam a par da forma como o dinheiro é gasto;
- Façam ajustes ao valor fixado, caso seja necessário, em vez de ir dando dinheiro extra à medida que vão surgindo novas necessidades.
Importa notar que o comportamento dos adultos condiciona (e muito) esta aprendizagem. Assim, se os adultos gastam grande parte do seu ordenado em bens supérfluos nos primeiros dias do mês, não é expectável que sejam capazes de consciencializar os filhos no sentido de hierarquizar prioridades. Não chega dizer que “o dinheiro não cresce nas árvores”! É preciso dar o exemplo.
Ao mesmo tempo que os adolescentes aprendem a gerir o seu próprio dinheiro, desenvolvem o pensamento consequencial, ou seja, aprendem a associar comportamentos a consequências. Dessa gestão resulta, invariavelmente, a noção de que o dinheiro é finito, de que é preciso hierarquizar as múltiplas necessidades e, nalguns casos, poupar para as alcançar. Por outras palavras, tornam-se mais responsáveis.