No final de um dia de trabalho, a mulher chega a casa e desabafa com o marido:
- A Joana [colega de trabalho] está a deixar-me à beira de um ataque de nervos… Passa o tempo todo a implicar comigo, a tentar arranjar formas de me criticar junto do chefe. Hoje cheguei mais tarde do almoço e ela fez questão de ir adiantando o meu serviço só para ficar bem na fotografia.
O marido mantém os olhos fixados no monitor do computador, aparentemente alheio ao desabafo.
- Estás a ouvir?! Não, claro que não…
- E que tal esforçares-te por chegar a horas? Se ela não tiver por onde pegar…
Antes mesmo de conseguir completar a frase, a mulher interrompe-o:
- É sempre a mesma coisa. Nunca estás do meu lado.
É sabido que os casais que expressam o seu amor com frequência e criatividade lidam de forma mais eficaz com os momentos de tensão – tenham estes a ver com dificuldades conjugais ou não. Todos os casais discutem, mesmo os mais felizes. Mas, para alguns, cada discussão é o princípio do fim. Cada queixa ou lamento é um ataque pessoal. Para outros, os momentos de tensão são pequenas gotas num oceano de manifestações de afecto. Nessas manifestações de afecto estão incluídas a partilha de experiências e a admiração mútua.
É verdade: o amor romântico não depende apenas dos beijos, das carícias ou das declarações de amor. Manter uma relação amorosa também envolve a capacidade para ouvir o outro, estar a par das suas preocupações, dos seus problemas, empatizar com eles, ser solidário.
Se um casal despender cinco a dez minutos por dia para conversar sobre as tensões e vitórias das respectivas jornadas de trabalho, estará a semear manifestações de afecto, mesmo que não tenha consciência disso. Essa é, aliás, a única forma de se manterem “actualizados”, em vez de permitirem que algum tipo de fosso se instale. Claro que às vezes dez minutos não são suficientes. Nos piores dias, os desabafos parecem eternos e um dos cônjuges pode até sentir-se um saco de pancada. Mas se houver reciprocidade e não for sempre a mesma pessoa a desabafar, a tolerância e a empatia são maiores.
Ser empático tem pouco a ver com a situação descrita acima. A crítica do marido até tem alguma lógica, mas não é propriamente esse o comentário que se espera ouvir da pessoa que amamos. As chamadas de atenção só são tidas em consideração se partirem de pessoas que nos conhecem bem e que empatizam connosco. Ou seja, é-nos mais fácil ter em consideração as críticas e sugestões das pessoas que reconhecem os nossos esforços, as nossas “dores”, as nossas qualidades e que demonstram o seu apreço por nós.
Os casais que demonstram a sua admiração mútua nos pequenos gestos sentem-se mais legitimados para fazer críticas e acolhem melhor as sugestões.
Se olharmos para aquilo que acontece entre pais e filhos apercebemo-nos de que esta regra é generalizável a outras relações emocionalmente significativas: À medida que se autonomizam e se distanciam dos pais, os adolescentes tendem a sentir as críticas e as chamadas de atenção como “injustas”. Mais: acham que os adultos não os compreendem, não os conhecem e que estão “todos” contra si. Quanto mais os pais conseguirem empatizar com as emoções dos filhos, melhor conseguirão fazer-se ouvir.
Se a única mensagem que obtemos do nosso cônjuge num momento de stresse é “podias ter feito melhor”, dificilmente nos sentiremos acolhidos. É precisamente da pessoa que amamos que esperamos maior solidariedade, apoio e reconhecimento.