Na senda da minha exposição sobre os pilares do amor romântico, saliento hoje mais um: a expressão material. É comum pedir aos casais com quem trabalho em contexto terapêutico uma definição para cada um dos pilares. Procuro conhecer a importância que cada uma destas variáveis tem para cada casal e a respectiva aplicabilidade. Curiosamente, este é o pilar em que surgem mais dúvidas: nem todas as pessoas associam de forma imediata a palavra “material” à troca de presentes entre os cônjuges.
Por troca de presentes entende-se não apenas os “tradicionais” atribuídos nas festividades, mas também as surpresas românticas ou a compra de artigos tão banais quanto os de mercearia, desde que isso resulte numa tentativa de agradar ao cônjuge.
Dissipada a dúvida, importa conhecer que tipo de ofertas é valorizado por cada um dos membros do casal e, claro, até que ponto é que são feitos esforços no sentido de satisfazer esses interesses.
Mais do que de diferenças inter-casais, devemos falar em diferenças interpessoais. Quem ama procura agradar, nos limites dos seus recursos financeiros, o seu cônjuge. Para isso, é preciso muitas vezes algum altruísmo. Por exemplo, se um dos membros do casal valorizar a comemoração de datas como o Dia de S. Valentim ou o aniversário de casamento através da troca de presentes, esperar-se-á que o outro se esforce para satisfazê-lo, mesmo que esses eventos sejam, aos seus olhos, pouco relevantes.
Noutro exemplo, se pensarmos que a maior parte dos casais tem que fazer compras para a casa de forma regular, não será preciso muita criatividade para encontrar formas de agradar à pessoa amada. Sem grandes esforços financeiros é possível seleccionar alguns artigos de acordo com os gostos do cônjuge – lembrando a fruta preferida, a marca de vinho de que o outro gosta ou outro “mimo” qualquer.
A ideia-chave é mesmo esta: exprimir materialmente o amor romântico consiste em mimar o cônjuge de múltiplas formas e de modo regular, sem excessos, nem gastos desnecessários.
Na actualidade muitas pessoas sucumbem com relativa frequência aos impulsos do consumismo sem se lembrarem da pessoa amada. Refugiam-se na ideia de que ele/ela fará o mesmo e esquecem-se de que esta é (mais) uma forma de acarinhar o outro.
Outros pecam por excesso, não no sentido de oferecerem presentes a mais, mas no sentido de gastarem muito dinheiro sem que isso implique uma tentativa de agradar ao cônjuge baseada no conhecimento mútuo. Oferecer um artigo de luxo ou um presente com custos acima da média pode não representar um gesto muito romântico se não reflectir um real interesse em acarinhar o cônjuge.
Infelizmente alguns casais encontram nestes gestos uma forma de compensar 'asneiras', acabando por agravar muitas vezes a situação. De facto, os presentes, por si só, não podem preencher as lacunas criadas noutras áreas.
Nesta miríade de potenciais equívocos importa ainda referir a importância da valorização destes gestos. É absolutamente natural que se cometam “erros” de principiante, isto é, que cada um dos membros do casal ofereça artigos de que o outro não gosta. Ora, se um dos cônjuges ferir o outro com comentários depreciativos, ou se, pura e simplesmente, desvalorizar a oferta, não será expectável que o gesto se repita. A assertividade – leia-se, clareza e honestidade – conjugal é fundamental também no que toca à expressão material do amor.