Fui recentemente confrontada pela Imprensa com um estudo segundo o qual os portugueses são recordistas em encontros de uma noite (mais conhecidos como “one night stands”). A jornalista pedia a minha colaboração enquanto psicóloga. As questões giravam à volta da descrição do contexto em que estes números se inserem. O que é que temos de diferente? Que características tem a nossa sociedade, e a vida nocturna portuguesa em particular, que favoreçam estas estatísticas?
Em primeiro lugar, devo confessar que fui apanhada de surpresa com tal revelação. Como a generalidade dos portugueses (não só psicólogos), estou familiarizada com o fenómeno, mas estava longe de imaginar que pudéssemos ser recordistas na matéria. Se tivesse que adivinhar, apostaria mais no povo americano (talvez influenciada por séries de TV como “O Sexo e a Cidade”).
Não sendo especialista na matéria, procurei reflectir sobre potenciais factores que permitissem compreender esta realidade. Assim, recordei o facto de Portugal ainda ser um país agarrado à tradição do casamento – para o bem e para o mal. Independentemente de olharmos para os centros urbanos ou para a longínqua ruralidade, continuam a existir demasiados casos de pessoas que casam devido à pressão mais ou menos explícita daqueles que os rodeiam. Ora, se já é difícil manter um casamento quando se casa por amor e com convicção, imagine-se o que representa fazê-lo para corresponder às expectativas de outrem. Calculo que os encontros de uma noite façam (ainda) mais sentido nestes casos. Afinal, as pessoas menos assertivas, ou seja, aquelas menos capazes de expor os seus verdadeiros sentimentos e opiniões com medo de serem julgadas, estão mais expostas a situações de infidelidade. Caem, portanto, facilmente neste tipo de situações.
Acrescentei ainda uma segunda variável potencialmente explicativa do elevado número de encontros de uma noite: o consumo abusivo de álcool. Como é possível ler no “Curtas” da barra lateral deste blogue, estima-se que cerca de 10% da população portuguesa tenha problemas relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas. Mais: os jovens bebem cada vez mais e cada vez mais cedo. Em relação a esta questão não é difícil perceber as consequências: o álcool descontrai, mas também pode levar-nos a situações de que nos arrependamos horas depois. Sem querer emitir juízos de valor, preocupa-me sobretudo que o inebriamento provocado pela bebida dê lugar a comportamentos de risco. Afinal, quanto maior o número de parceiros sexuais (cujo “histórico” é absolutamente desconhecido), maior a probabilidade de ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis. Conheço relativamente bem os hábitos anti-concepcionais dos jovens portugueses e temo que o uso do preservativo não seja muito frequente aquando destas saídas.
Não deixo, no entanto, de me questionar: até que ponto é que estas duas variáveis contribuirão para perceber estes dados? Que outros factores explicarão a crueza destas números?