Embora já aqui tenha escrito sobre depressão infantil e depressão pós-parto, não me debrucei sobre a chamada “epidemia dos tempos modernos”. Inicio hoje um ciclo de textos (espaçados no tempo, claro) sobre a depressão – os seus contornos, as suas variações, o impacto da doença na pessoa que dela padece, nos familiares e amigos, e todas as outras repercussões. Não seria possível abordar estas questões de forma minimamente profunda num só “post”, ainda que tentasse referir-me ao tema em termos globais.
Não sendo um tema “bonito”, é um tema incontornável, pelo que, mais cedo ou mais tarde, teria que o ilustrar neste blogue. Faço-o agora em resposta aos múltiplos visitantes que aqui chegam via Google ou Sapo depois de pesquisarem “depressão”*.
Em primeiro lugar, importa que interiorizemos todos que a depressão é uma doença. Não se trata de uma esquisitice, nem tão pouco de uma moda. Como tal, requer tratamento especializado, o que nalguns casos demora mais do que noutros. Desta assunção resulta que é inútil tentar convencer uma pessoa deprimida de que tudo está bem à sua volta.
Ainda que as intenções sejam as melhores, afirmações do tipo “Tens um bom emprego, uma família espectacular, OLHA À TUA VOLTA!” não ajudam e podem, até, ser contraproducentes. A depressão funciona como um par de lentes que impede que a pessoa veja o mundo como ele é. A realidade é substituída por um pessimismo generalizado que angustia, corrói e devasta. A percepção de que os outros vêem o mundo de forma diferente pode exacerbar a sensação de solidão (e incompreensão) da pessoa que está deprimida.
Apesar de esta doença poder resultar de múltiplos factores – alguns endógenos, outros exógenos – há um denominador comum a todas as suas manifestações: as circunstâncias, por melhores que sejam, não têm a força suficiente para eliminar os sintomas.
Compreender (e ajudar) uma pessoa com depressão implica aceitar que as descrições de sensação de impotência, tristeza profunda ou desinteresse geral não são estratagemas para chamar a atenção, nem são dificuldades ultrapassáveis com meia dúzia de saídas com amigos.
Claro que quem está à volta pode sentir dificuldade em compreender que uma pessoa que aparentemente tem tudo para ser feliz possa sentir-se miserável. A ignorância em relação ao tema, associada ao isolamento tantas vezes imposto pelo próprio doente, pode fazer com que alguns familiares e amigos também se sintam impotentes e, consequentemente, se afastem.
O isolamento é um dos piores aliados da depressão: juntos conseguem fazer com que o desespero cresça de forma avassaladora, o que, nalguns casos, pode ser fatal.
A primeira mensagem que gostaria de passar alusiva a esta perturbação diz respeito à interiorização de que a depressão é uma doença séria, mas tratável. Embora não seja fácil para ninguém admitir a presença desta doença, o pedido de ajuda especializada é fundamental e, normalmente, implica algum alívio logo no princípio do tratamento.
Sobre os diferentes tipos de intervenção falaremos noutro dia…
*Dados obtidos através do Statcounter que, embora invisível, está presente neste blogue.