Na sequência dos dados que dão conta de um aumento de cerca de 90 % nas taxas de divórcio em Portugal, o programa Opinião Pública, da SIC Notícias, abordou hoje os temas Divórcio, Terapia Familiar e Vida a Dois. A reportagem introdutória serviu para ouvir um profissional que admiro – o Professor José Gameiro – e algumas pessoas “apanhadas” na rua.
Devo introduzir aqui uma nota: fui contactada a propósito desta reportagem no sentido de fornecer o contacto de um casal que tivesse seguido no consultório. Este tipo de pedidos é relativamente frequente e, apesar de compreender a necessidade de dar maior credibilidade e realismo às peças jornalísticas, declino sempre. Desde o início da minha actividade profissional que acordei com o meu co-terapeuta o cumprimento do princípio de confidencialidade em relação aos utentes do nosso consultório. Com certeza que poderia efectuar o convite antes de fornecer os dados, mas reconheço nesse comportamento a violação dos limites da aliança terapêutica.
Retomando o programa em questão, gostei da intervenção do Psicólogo convidado que, de forma educada e empática, lá foi comentando as intervenções dos espectadores.
Não tive oportunidade de ouvir a totalidade dos intervenientes mas a atenção dedicada ao programa permitiu-me ouvir um senhor de meia-idade que atacou de forma feroz o amor e as relações amorosas. Disse, em directo, que concordava com o facto de as gerações mais novas não optarem pelo casamento. Até aqui tudo bem. O problema reside na justificação: a sua posição não resulta de um profundo respeito pelas decisões alheias, mas na suposição de que o casamento pode destruir as poupanças dos nubentes. Começando por ilustrar a sua posição através do exemplo da própria filha (e depois generalizando), lá foi dizendo que uma pessoa que “entre” num casamento com alguns milhares de Euros na poupança corre o sério risco de sair dele com uma série de dívidas.
Como tenho seríssimas dificuldades em encarar o casamento como um negócio, recuso-me a olhar para esta instituição como sendo um passo de alto risco do ponto de vista financeiro.
O programa serviu ainda para perceber que algumas pessoas – na maioria mais velhas – estão ainda muito longe de perceber o papel de um terapeuta familiar, vivendo segundo a máxima “Entre marido e mulher, ninguém mete a colher”. Felizmente, em menos de uma hora de Opinião Pública também houve espaço para testemunhos inteligentes de quem, não precisando deste tipo de ajuda, compreende o seu alcance.
Tive pena que tão pouco tempo fosse dedicado às implicações dos números – aumento do número de divórcios e do número de pedidos de ajuda nos consultórios de Terapia Familiar – na vida das crianças.
Até que ponto é que as pessoas que desvalorizam o trabalho dos profissionais desta área reconhecem que houve muitas crianças (hoje adultas) que sofreram traumas gravíssimos precisamente porque os pais foram forçados a resolver os problemas à sua maneira? Ou alguém duvida que há por aí muita gente que se diz “bem casada” escondendo ambientes familiares miseráveis?
Depois de ter trabalhado com tantos casais, creio que já aprendi algumas coisas. Entre elas, o facto de que as relações amorosas requerem que sejamos optimistas realistas. O pessimismo e o optimismo irrealista estragam tudo.