Nos casamentos felizes de longa duração a comunicação é de tal modo eficaz que muitas vezes um dos membros do casal inicia uma frase e é o cônjuge que a completa. Por outras palavras, o conhecimento mútuo e o reconhecimento dos “sinais” (linguagem verbal e não verbal) estão tão apurados que a sintonia é (quase) total. Isto não significa que nestas relações não haja problemas (nunca é demais frisar esta ideia) ou equívocos. Mas eles são pontuais e “geríveis”.
Como é possível atingir tal nível de entendimento? – perguntarão todos os jovens casais. Se, por um lado, não há fórmulas mágicas, há alguns segredos para manter uma relação amorosa feliz. E a assertividade é um deles. Tal como já tive oportunidade de explicar aqui, “assertividade [conjugal] é a expressão directa, HONESTA e CLARA de sentimentos, pensamentos, necessidades e opiniões, sem ferir, humilhar ou faltar ao respeito de forma intencional [ao cônjuge]”. Trocado por miúdos, isto quer dizer que uma das competências que se espera que sejamos capazes de desenvolver numa relação amorosa consiste em saber partilhar com o outro aquilo que nos vai na alma. O oposto desta competência é um comportamento errático a que todos nós já recorremos - sim, os terapeutas conjugais também erram! – e que consiste em esperar e/ou desejar que o cônjuge “se aperceba” do que estamos a sentir. Na maior parte das vezes em que isto acontece o membro do casal nem se apercebe de que está a errar, já que lhe parece ÓBVIO que o outro se aperceba do que está a acontecer.
Nalgumas situações a obviedade está no facto de aquela pessoa estar triste e/ou magoada com um acontecimento recente e que, aos olhos do outro, pode não ter a mesma leitura. Se os membros do casal forem pouco inteligentes do ponto de vista emocional tenderão a cometer sistematicamente o erro de condenar a interpretação do cônjuge em vez de investirem na sua própria assertividade.
Na prática estes equívocos traduzem-se por frases do género “Não é possível que ele(a) não tenha percebido…” ou “Era óbvio que… ele(a) é que ignorou…”. Escusado será dizer que da falta de clareza resultam quase sempre sentimentos de frustração e de incompreensão. Pois: se eu acho que ele(a) DEVIA ter percebido como é que eu estava a sentir-me, então é ÓBVIO que eu espero que ele(a) se comporte à altura e me apoie.
Quando o apoio emocional ou outra necessidade qualquer não são manifestados de forma CLARA e HONESTA há uma grande probabilidade de o cônjuge não se comportar da forma esperada/desejada. É então que surgem cobranças, críticas e amuos a que o outro reage como se estivesse a ser atacado – ou foge, ou contra-ataca.
Aos olhos de um terapeuta conjugal é relativamente fácil perceber estes padrões de comportamento que rapidamente se transformam em guerras verbais. Aos olhos de quem está mergulhado na relação as coisas podem ser um pouco mais complexas. A verdade é que, se deixarmos que as emoções mais negativas tomem conta de nós, estaremos mais expostos a este tipo de dificuldades e deixaremos a nossa relação amorosa mais vulnerável.
A atitude proactiva – que inclui a partilha e o interesse pelo que o outro está a sentir – ainda é a melhor forma de prevenir estes problemas de comunicação.